para a poeta Roseana Murray
Rasgo. Cada grão de
areia que escorre no tempo me leva a imaginar o antes e o depois. As ampolas do
passado e do futuro. Por ali a dor passa e o perdão nasce, em uma receita de
olhar para tudo e todos. Uma pequena chave que abre os labirintos da incerteza,
do medo e da dúvida. Abrindo o coração para a reconstrução.
Ontem. Mistérios e
silêncios que se equilibram na borda de um poema, buscando amores nas dores, abrindo
janelas. Tem muita vida pelo caminho, passos incertos de seus sonhos. Tem muita
escrita de carinho, remendada, costurada, bisonhos.
Semente. A dança
ciranda no tempo de andar para trás, porta da roda da vida e da morte,
redemoinho de água no meio do vento. Vento que apaga os trilhos do trem, que
iluminam novos caminhos, passarinhos.
Encanto. As estrelas
do futuro azul descobrem pétalas e espinhos, nuvens densas que assopram
esperanças na alma germinando sereias, crianças e anõezinhos. Acordando palavras
que descansavam no fundo do casulo da mariposa.
Acorda. No mundo
encantado de Roseana, com firmamentos e labirintos, a criança se descobre no
espelho, azul, dourado e vermelho. Todos convivem na cabana da criatividade, no
temporal da ilha da Verdade.
Nome. Um pedaço de sol
pinta amarelo no labirinto do céu, as três Marias cantam e dançam em roda,
mostrando o perdão que apenas, a penas, quer escrever, pintar, desenhar e
sorrir. Sua alma sabe encantar.
Assumir. Carregar nas
mãos a montanha e o mar, ser barco sendo levado, mas também arrumar as pedras
para não afundar. Ou brincar de equilibrar as pedras em uma arquitetura
artística.
Morte. Tempestade e
silêncio. Matar sentimentos ruins, deixar morrer a dor. Inventar presentes da
vida, com braçadas de flores e pássaros loucos que desamarram os nós. Coisas
inúteis que não servem para a poesia cheia de vida e luz.
Ultimato. Arrumar
todas as gavetas internas, tirando o pólen guardado, usando as raízes como
sinos de cores, criando possibilidades de surpresas do destino, amizades novas,
novos passeios.
Receitas. Triturar,
misturar, separar, cozinhar, preparar, macerar, bater, colocar no forno,
trocar, inventar, escrever, pensar, descansar, dançar, sorrir, crescer,
adicionar, espalhar, descansar... viver.
Receber. Navegar nos
mistérios dos gatos, fazer um interminável bordado de palavras pequenas que
cobrem todo o livro da vida. Com linhas, agulhas, bordando as neblinas com
ajuda do vento. Tocar o outro.
Adivinhar. O que a
floresta do futuro reserva em cada semente, um fogo que levanta a poeira mágica
da amizade, encontrando unicórnios que pousam na menina dos olhos do fio do
horizonte, espantando a tristeza para o lado oculto da Lua.
Yahoo! Venceu! O olhar
em um longo e apertado abraço derrama as notas musicais na imensa caravela que
agora flutua na paz azul do olhar da poeta.
(poema inspirado principalmente no livro
Receitas de Olhar, da poeta.)