novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......
convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

terça-feira, 13 de julho de 2021

 Na escola, a redação da criança faz a professora chorar.

"Eu moro com meus pais, tenho uma cama em que dorme eles, minha irmãzinha e eu.
Gosto de olhar pela janela, ver as pessoas passando, elas nunca me olham.
No armário com gavetas temos nossas roupas limpas e na geladeira temos muita comida e frutas.
Gosto de ver desenhos na TV, como os filmes de super-herói. Quando o vendedor não expulsa a gente.
Temos até um passarinho que sempre canta para afastar os males."

Coitada da professora... ah, se ela soubesse...


(fiz este texto rapidamente, depois de ver esta foto, que me comoveu muito, no twitter. Postei no Facebook hoje e vi que muitas pessoas gostaram, então resolvi colocar aqui no blog).





Ficção - Visita inesperada

 Ontem de noite (meia-noite) escutei um barulho na janela.

Algo batia insistentemente no vidro. E minha gata Miúcha fazia ruídos, como se estivesse vendo um inimigo.
Fui para a sala e acendi a luz da sacada.
Na porta envidraçada da sacada um bicho "caiu" ao chão.
Era um gatinho preto!
AMO gatos, então abri a porta para pegar o bichinho (nem me passou pela cabeça imaginar como ele chegou ao 17° andar).
Antes que eu fizesse qualquer gesto, ele entrou voando no apartamento. Não, não é figura de linguagem. Ele literalmente voou!
Pousou em cima de minha escultura de Iroko.
Só então percebi. Não era um gato. Ou melhor, não era SÓ um gato.
Miúcha, quando o outro bicho voou para dentro, escondeu-se embaixo da poltrona. Ainda fazendo ruídos, porém mais discretos.
Morgana veio correndo para ver o que acontecia e ficou encarando o pretinho.
Fiquei pensando sobre o que faria com o bichinho. Ele parecia assustado.
Tenho o hábito de falar comigo mesma, e com as gatas, em voz alta.
Perguntei para elas:
- E agora, meninas? O que fazemos? Colocamos para fora? Está tão tarde.
Para minha surpresa o pretinho respondeu.
- é tarde.
Meu coração quase pulou da boca. Miúcha foi para baixo do sofá. Morgana deu passos para trás.
Pensei: esta quarentena está me fazendo mal, estou até alucinando.
- olha, não sei quem é você. Mas não pode ir entrando assim na casa dos outros, sem permissão.
- é tarde.
Arrepios. Com um pouco de raiva, reclamei.
- achei você bonitinho, mas agora quero que você saia de minha casa, ouviu? AGORA!
- é tarde.
Lembrei do corvo, de Poe. Mas não lembrava do final do poema. Peguei minhas gatas e fui para o quarto, trancando bem a porta.
Sonhei a noite inteira com o bicho.
De manhã, fui olhar... o tempo tinha passado.
(Continua?)

(escrito originalmente no facebook, em 13 de julho de 2020)