A
outra que fui ontem vive então num encadeamento de imagens densas que as mãos
soltas procuram reter, matéria a deslizar demasiado fluida, os cabelos roçando
convulsos a fronha desfeita. Os pés lívidos, depois de terem vindo por sobre
pedras limosas, águas-vivas, sargaços, e mais além descendo até o fundo de
areia e pó de calcário, a rechaçar o que lhes perseguia, dão a ver agora uma
pele rubra e indefesa a qualquer tentativa de assalto e aproximação. A blusa
foi repuxada e suspensa até os seios. Uma espécie de almofada ou bicho de
pelúcia se encontra firmemente seguro entre as pernas muito fletidas; os
joelhos, bem próximos de tocar os lábios e a pequena mancha de baba, se mantêm
imóveis.
Devo
agora levantar-me e correr a um terapeuta para ser decifrada? Por que não
acreditar que sou o ser que sou, nem mais nem menos bizarra que uma
criatura abissal que engoliu ou foi engolida?
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