novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......
convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

domingo, 23 de julho de 2017

Saudades da Infância

Eu não tenho Saldade

Eu tenho Docedade.

(Texto: Susan Blum. Foto: minha irmã e eu na praia. 
Apenas consigo lembrar que estava sentindo frio.)


quinta-feira, 13 de julho de 2017

FICÇÃO - Terror Noturno


A escuridão não constitui a causa do perigo,
Mas é o habitat natural da incerteza – e, portanto, do medo.”
(Bauman in Medo Líquido)

- MÃÃEEE!!!

A mãe abre a porta, assustada e vê seu filho aterrorizado, envolto nos cobertores, chorando.

-Mããee, tem um monstro aqui no quarto! Deixa eu dormir com você?

Suspiro aliviado e voz um pouco zangada:

- Não, filho. Você tem que dormir sozinho!

- Ah, mããee. Deixa então a luz acesa!

- Era só o que me faltava! Você já é um homenzinho! Tem sete anos! Vá dormir!

Apaga a luz e ainda ouve uma última súplica:

- Deixa então a porta meio aberta, mããee...

- OK. Só por hoje! 

Noite seguinte. Novo choro. O filho mostra hematomas no corpo e diz que o monstro bateu nele.  A mãe achou estranho, mas como olhou o quarto inteiro e não achou nada, desconfiou que os hematomas foram feitos durante o dia e que seu filho agora usou o monstro como desculpa.

- Vai dormir! 

Terceira noite. O choro, de novo. O filho mostra tufos de seu cabelo entre seus dedinhos, chorando porque o monstro puxou seus cabelos. 
A mãe estranha. Observa de novo todo o quarto. Tranca de novo as janelas. E resolve deixar uma luzinha pequena próxima da cama.
Por fim, no meio da madrugada, o filho chora alto e a mãe corre para abrir o quarto de supetão.
E o filho, assustado com a entrada intempestiva da mãe, mostra seus bracinhos ensanguentados e pergunta para a mãe com voz chorosa:

- Você viu o monstro, mamãezinha?

Ao que a mãe, recuando de costas até a porta, sem tirar os olhos do filho, responde:

- Sim, filhinho amado, desta vez eu vi.


(Agradeço ao amigo Ícaro, que sempre lê e comenta meus textos)

sábado, 8 de julho de 2017

FICÇÃO - Comida também

Todos os dias era a mesma coisa. Eu cozinhava com ódio – pois odiava cozinhar - e pedia à minha filha que levasse para a avó, que morava longe, e que ela fosse a pé (assim demoraria mais).

Até dizia que ela podia se distrair com qualquer coisa no caminho. Que brincasse com as borboletas, com os esquilos, com os lobos da floresta.

E todo dia, quando a minha filha saía, eu sentia um alívio, corria para tomar banho e me arrumar, enquanto deixava a porta dos fundos aberta.


Para o caçador.
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