“A escuridão não
constitui a causa do perigo,
Mas é o habitat
natural da incerteza – e, portanto, do medo.”
(Bauman in Medo
Líquido)
- MÃÃEEE!!!
A mãe abre a porta, assustada e vê seu filho aterrorizado, envolto nos
cobertores, chorando.
-Mããee, tem um monstro aqui no quarto! Deixa eu dormir com você?
Suspiro aliviado e voz um pouco zangada:
- Não, filho. Você tem que dormir sozinho!
- Ah, mããee. Deixa então a luz acesa!
- Era só o que me faltava! Você já é um homenzinho! Tem sete anos! Vá
dormir!
Apaga a luz e ainda ouve uma última súplica:
- Deixa então a porta meio aberta, mããee...
- OK. Só por hoje!
Noite seguinte. Novo choro. O filho mostra hematomas no corpo e diz que
o monstro bateu nele. A mãe achou estranho, mas como olhou o quarto inteiro e não achou nada,
desconfiou que os hematomas foram feitos durante o dia e que seu filho agora
usou o monstro como desculpa.
- Vai dormir!
Terceira noite. O choro, de novo. O filho mostra tufos de seu cabelo
entre seus dedinhos, chorando porque o monstro puxou seus cabelos.
A mãe estranha. Observa de novo todo o quarto. Tranca de novo as janelas.
E resolve deixar uma luzinha pequena próxima da cama.
Por fim, no meio da madrugada, o filho chora alto e a mãe corre para
abrir o quarto de supetão.
E o filho, assustado com a entrada intempestiva da mãe, mostra seus
bracinhos ensanguentados e pergunta para a mãe com voz chorosa:
- Você viu o monstro, mamãezinha?
Ao que a mãe, recuando de costas até a porta, sem tirar os olhos do
filho, responde:
- Sim, filhinho amado, desta vez eu vi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário