novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......
convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

quinta-feira, 20 de junho de 2013

REAL - BRASIL inconformado - um ponto de vista

Tenho estado em alternância de sentimentos contraditórios ultimamente. FELIZ porque percebo que a visão que eu tinha da maioria dos jovens (geração coca-cola e facebook) estava errada. Eles estão saindo às ruas. Antes eu via poucos alunos nas passeatas. Hoje vejo muitos deles.
(início da concentração do dia 17 de junho - Curitiba - foto: Susan Blum) 
Mas ao mesmo tempo triste e receosa com certas "convicções" que são passadas e repetidas sem um mínimo pensamento sério e reflexivo.
Um exemplo são de dois blogs que cito para que se tenha imparcialidade (afinal, o que desejo é que as pessoas leiam não somente meu ponto de vista, mas sim os outros e que consigam - minha esperança - ter SEU próprio ponto de vista!).
http://incandescencia.org/2013/06/18/isso-e-sim-sobre-20-centavos-conservadorismo-nos-movimentos-sociais/
http://papodehomem.com.br/corrupcao/
Algumas questões que considero relevantes:
Não concordo que ser do "movimento anti-corrupção" seja inválido porque não há movimento pró-corrupção. Ora, é uma coisa óbvia que não haverá um movimento pró-corrupção. Mas isto não significa que ela não exista! Ao contrário. E TODOS sabemos disso!
Idem para movimentos pró-vida, ou educação, ou saúde. CLARO que NÃO há movimentos contra a vida, contra a saúde. Mas há pessoas que vão contra isso, sim.
PENSEM!!!
Qual o objetivo de pessoas que escrevem desta forma, que NÃO querem que outras bandeiras sejam levantadas ?
Falam que estes que levantam estas bandeiras são reacionários. Calma lá. PENSEM! Acham que é algum partido político por trás. PENSEM!
POR FAVOR!
CLARO que temos que ter exigências pontuais. Ótimo! Conseguiram que os preços das passagens fossem diminuídos. Agora ficamos em casa quietos, sem mais passeatas porque ganhamos os "centavos"? 
Por favor, gente. Sejam reflexivos!
Não deslegitimizem os grupos que têm propostas diferentes das suas. Se querem salvar as baleias e os elefantes... que o façam!
Se você é a favor de uma saúde e educação com qualidade, faça sua bandeira.
Se você é a favor do aborto, faça a sua bandeira. Se você é contra o aborto, faça a sua bandeira. 
Mas vamos DIALOGAR! E não virarmos inimigos.
É justamente a desunião que eles querem provocar. Como eu disse: CLARO que devemos ter pautas objetivas e concretas. Mas não podemos deixar de lutar pelo resto.
Se você é pela educação (e aqui pergunto ao grupo radical: alguém aí é contra a educação?)  lute por ela. Principalmente porque li cartazes com MUITOS erros nos protestos. Um deles, aqui em Curitiba (só como exemplo): "Descupe o inconveniente, estamos construindo um Brasil melhor". O quê?? DESCUPE?? Deveriam ao menos deixar as pessoas que sabem escrever fazer os cartazes.
Mas, voltando ao ponto: LUTE pelo que acredita! Mas com argumentos!
Legal ser "politizado", querer que todos tenham lido Marx, Abrams, Smith, Somers, Hechter, Deflen, Lemmert, Steinmetz, Weber,  Hall, Pomeranz, Bendix, Tilly, Calhoun, Moore, Huntington, Blum, Putnam, Kohli, etc etc etc
Mas ao mesmo tempo é um ser que fala e se manifesta por palavrões, com violência, e ainda incitando os outros a isso.
Politizado?? Incitando à violência? à depredação? 
AMIGO, quem é que paga os impostos??
ACORDA, meu!
Outra questão, voltando aos que dizem que ser contra algo que não existe os pró é besteira:
- sou contra quem bebe e dirige, quem mata por dirigir alcoolizado. Há alguém aqui que acha que todos devemos beber e dirigir?? Por favor, se manifeste!
Mas há pessoas que bebem e dirigem? UM MONTE! 
Até a hora que fazem besteira no trânsito e matam inocentes. Né? ou até a hora que alguém de SUA família morre por causa de inconsequentes desses. 
A falta de EMPATIA ainda é o pior defeito do ser humano.
Colocar-se no lugar do outro!
Bom, como eu disse, esta é a MINHA opinião e gostaria muito que pessoas "civilizadas" postassem opiniões contrárias, COM argumentos.
Adoraria CONVERSAR sobre estas questões.
Mas sem palavras de baixo calão (estes comentários serão imediatamente retirados). COM argumentos.
Quero mudanças, SIM.
Quero manifestações, SIM.
Mas SEM violências!

Não quero que tudo pare por causa de centavos ganhos nas passagens! Não foi por 20 centavos e não será pelo não gasto deles que ficarei quieta! Nem que continue sozinha. Mas quero o não à PEC! Quero os corruptos presos. Quero o dinheiro devolvido aos cofres públicos. Quero que os políticos percam suas regalias!
CINCO CAUSAS- ANONYMUS -
Não quero voltar a participar de passeatas com algumas dezenas ou centenas! Quero milhares nas ruas, sempre!
Para fechar, uma frase de Voltaire:
Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.

NÃO deslegitimizem os grupos que têm propostas diferentes das suas.
(pensem nisso, pelo menos).

domingo, 16 de junho de 2013

REAL - Verás que um filho teu não foge à luta

Não tem como escrever uma crônica hoje em dia deixando de falar no assunto mais importante da história do Brasil (dos últimos anos). O ano de 2013 fará páginas em futuros livros de história com fotos e textos que, apenas posso supor, hoje.
Nasci nos anos sessenta. Sou filhote da ditadura. Cresci escutando o famoso: “os russos comem criancinhas” (não entendendo isso direito, apenas os associava ao lobo mau de Chapeuzinho Vermelho).
(foto: Diogo Santos)
Passei a adolescência escutando que “brasileiro engole tudo” “Brasileiro é cordeirinho” “Brasileiro aceita tudo” “Brasileiro não faz nada para mudar a situação”.
Escuto as pessoas falando dos outros povos, como Grécia, Espanha, Turquia, que – estes sim – são politizados, são conscientes e reclamam. Vão para as ruas!
Sinceramente? Eu não achava que a geração coca-cola e facebook fosse se mobilizar. Sei que tem vários que ainda ficam no facebook. Apoiando ou criticando, mas muitos estão lá. Na rua, sob chuva de balas de borracha e na pontaria de spray de pimenta.
(Há no FB dicas para se proteger em manifestações)

Agora escuto críticas contrárias: “mas este povo é baderneiro mesmo”, “aposto que são fantoches de outro grupo político que os está comandando”. “Mas que absurdo! Tudo isso por centavos!”
Não! Não é por centavos. Os centavos foram apenas a gota d’água de anos de corrupção, da colocação do Renan Calheiros na cúpula, do Feliciano nos Direitos Humanos, do PEC 37, da Lei do Nascituro, dos ataques homofóbicos ou racistas, dos estupros e assassinatos das mulheres, de um Carli que mata dois rapazes por dirigir bêbado e continua solto, por várias outras violências e PRINCIPALMENTE por uma saúde e educação mais que sucateada.
Escuto pessoas dizendo que há algum grupo político por trás. Que deve ser os próprios corruptos querendo confundir a população. Que isso tudo é orquestrado. Que não é o POVO se unindo.
Por favor, não tirem este prazer mínimo do povo que está sim se aproveitando das redes sociais (como fizemos quando Ratinho era o favorito aqui em Curitiba e conseguimos reverter), mas que está se revelando, sem partidos. O que posso dizer (apenas minha opinião) é que estamos sim aproveitando, por exemplo, os Anonymus.
Escuto as pessoas dizendo: “este grupo deve ser da bandidagem, se usam máscaras”. Incrível! Há uma propaganda que diz que nem todos que usam máscaras são bandidos. Que super-heróis também usam máscaras. Mas no caso da “realidade”, logo são tachados de bandidos.
No facebook achei um texto que infelizmente não encontrei mais devido à imensidão de comentários e postagens. Mas era de um ativista do grupo que pedia que os colegas conversassem com as irmãs, namoradas e esposas para que estas ficassem em casa, apoiando de forma virtual, pois os policiais estavam batendo em todos. Dizia que ver policial batendo em “marmanjo” não doía tanto nele, mas batendo nelas sim. Pedia desculpas para elas, dizendo que NÃO estava as chamando de sexo frágil, mas que nestas horas a violência era muita e que deviam se cuidar. Convocava os colegas com a frase “verás que um filho teu não foge à luta!”
Pergunto: onde está o homem violento aqui? Eles pedem o tempo todo a não-violência!
Tem um texto da Marina Colasanti – “Eu sei, mas não devia” que fala da inércia. Desse “permanecer em zonas de conforto” (por mais que sejam desconfortáveis).
Pois bem. O brasileiro cansou. O gigante adormecido despertou. E, aos que estão criticando, pergunto:
O que devemos fazer então? Se não querem que saiamos para as ruas?
Abaixo-assinados? Fizeram vários. Nada aconteceu.
Passeatas só com gritos? Fizemos várias! Nada aconteceu (sequer na mídia sai).
Movimentos “passivos” de subversão como colar cartazes com os pedidos? Um exemplo: no blog de Adonai ele pediu que os alunos colassem cartazes pelas faculdades federais. Apenas eram retirados. http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2012/10/querem-ver-uma-foto.html

Não, pessoal! É de gota em gota que se extravasa. É de ver todos os dias gente morrendo nos hospitais por péssimo atendimento. É de ver professores sendo agredidos por alunos nas escolas, ou com péssimo ensino (professores que mal sabem escrever o português).
Pergunto de novo: isso tudo é orquestrado por alguém? Por quem?
Por favor! É o POVO, gente. Pessoas como eu e você. Nós somos o povo!

Tem alguns baderneiros que se infiltram? CLARO que tem. Sempre teve isso. Afirmo de novo: NÃO sou a favor da violência. Sou pacifista por natureza.
Mas... pergunto:
O que devemos fazer para chamar a atenção sobre a ENORME insatisfação da população que está cansada da falta de respeito? 
O QUE DEVEMOS FAZER?
Não esqueçam que há outros países apoiando o Brasil.

Para fechar, já que falei de literatura, falo também da música. Já que “caminhando e cantando e seguindo a canção” fez parte de minha vida. Há uma música que acompanha a “brincadeira” de V de Vinagre. VINAGRE (cliquem na palavra que abre página para a música)



domingo, 9 de junho de 2013

FICÇÃO - Círculo Dantesco

O cavernoso ônibus estava lotado e um calor enxofroso sufocava a todos no coletivo. Em pé, carregando livros e sua bolsa pesada, prensada entre bolos de carne assada, Virginia quase não precisaria se segurar se não fosse o movimento brusco de freadas e curvas. Todos os bolos de carne em uma dança demoníaca.
Depois de uma hora nesta viagem ela chega à Instituição onde dá aulas de literatura. Por cinco horas participa de reuniões e palestras intermináveis que enchem seus ouvidos desatentos pelo cansaço. Ela se sente uma surda entre verborrágicos seres estranhos.
Sente uns bichinhos caminhando em seus pés assandaliados. Olha preocupada, pois detesta vermes ou insetos. Mas nada vê neles. Só a dor envolta pela sandália de salto, negra. E ela fecha o círculo quando retorna para casa, em mais uma hora perdida dentro da caverna de sombras.
De madrugada, acorda sobressaltada. Sonhou que passeava por um lugar estranho, e que um homem a agarrava por trás e tentava estuprá-la. A ânsia com que tentava se livrar daquele corpo quente grudado ao seu, empurrando com suas mãos as mãos peludas que tentavam enfiar os dedos em sua vagina e ânus, deixaram-na nauseada e sem ar. Acordou com a respiração BEM pesada. Arfando, tentava tirar as marcas indeléveis dos dedos ainda em seu corpo amolecido pelo medo. Sem abrir os olhos, tentou adormecer de novo, pois sabia que logo caminharia para um novo dia de suplício.
O despertador a acorda com som perfurante em seus tímpanos. Adormecida, desliga e já levanta. No automático, com gestos inconscientes, come o que tem. Bebe. Sai. O círculo recomeça: coletivo entupido. Lata de sardinhas estragadas que fedem já de manhã. O mesmo blá blá blá de disco quebrado. Repetições em compasso de tic tac apressado. Mais um dia que termina. Menos um dia de vida. Fecha o ciclo. Casa.
Com medo de pesadelos, comuns ultimamente, toma dez gotas de Rivotril (única herança do pai morto). A avalanche de carnes, salgadinhos e enlatados a empurram para um lago de bebidas misturadas. Ouve risos sádicos de pessoas inexistentes. Virginia se afoga na fermentação. Tenta escapar desse líquido espesso, mas seus pés se afundam no lodaçal podre e ela é engolfada pelo líquido. Novamente acorda do pesadelo, ainda sentindo borbulhas grudadas em seu cabelo, pálpebras e boca. Novamente não abre os olhos. Sente que se abri-los será pior. O medo a domina mais agora, do que no pesadelo.
Acorda. Um Sísifo carregando a pedra que sabia que escorregaria para novo dia de rotineiros desânimos.
As mesmas falas dos alunos, as mesmas dúvidas, os mesmos erros que ela tenta – em vão – corrigir. Concerteza, excessão, agente vai... agente vai... agente vai... para onde estou indo? - Pensa Virginia. Não saio do lugar! Estou presa em uma roda. Retorno ao “lar”. Estou tão cansada. Queria tanto viajar. Calma, Virginia, o dinheiro que você está guardando é para isso. O final do ano está chegando. Logo irá descansar!
Nova noite de lua velha. Ao deitar sente que bichinhos estão caminhando sobre sua pele. Levanta em um pulo e acende a luz. Observa seu corpo. Não há nada. Observa com cuidado a cama, levanta os lençóis (quem sabe as famigeradas aranhas marrons?). Nada! Deita com o soturno companheiro noturno: o pavor.
Virginia está feliz. Sonha que está ganhando cada vez mais dinheiro. As moedas e cédulas vão se empilhando ao seu redor, dentro do quarto. Ela sorri para cada novo monte que surge. Mas, de repente, percebe que um morrinho de dinheiro sumiu. Parentes, amigos, alunos, colegas do trabalho estão pegando seu dinheiro... levando embora. Ela tenta impedi-los, mas as imagens deles com o dinheiro evaporam-se ao menor contato de seus dedos ávidos. Acaba nua, em seu quarto totalmente vazio. Não tem mais nada. Até o ar está se esgotando no ambiente. Novo despertar antigo, com o mesmo arfar na busca asmática.
Com os olhos fechados, ela sente a raiva por todos aqueles que a roubaram. Que furtaram seu direito de descanso de férias. O ódio a penetra como vermes que devoram sua carne com dentes metálicos afiados.
Esse sentimento funesto a acompanha por todo o dia. Ela xinga o cobrador. Briga com o motorista. Discute com o chefe. Dá tapas em sua mãe. Grita com os alunos. Soca o irmão. De noite, ao adormecer, se vê em uma Igreja. Ela é luminosa e os raios coloridos dos vitrais ferem seus olhos. Ela vê o padre no altar e sente desejos. Pega uma bíblia e começa a se masturbar nela. Está quase gozando quando escuta pessoas gritando. Abre os olhos do êxtase e vê dedos ríspidos apontando para ela. Todos começam a jogar bíblias em Virginia, que para de se masturbar e tenta se defender.
Ela é “salva” pelo despertador que toca furioso. Nova roda de Samsara girando. Virginia passa o dia atordoada. Tenta falar com o namorado que a avisa que está muito ocupado e que não pode conversar agora. Que se verão no fim de semana apenas... como sempre. O desejo ainda está presente, latejando em seu corpo. Ela vai ao banheiro na sala de professores e começa a se masturbar. Pensa nos namorados antigos. No chefe bonitão. No outro professor do curso de Letras. Goza diversas vezes, mas não sente prazer real. Um vazio vai se infiltrando junto com a sensação de vermes que passeiam pelos seus braços. Ela olha assustada e nada vê. Suspira. Vai dar a última aula do dia, antes do retorno ao doce lar.
Mas esta aula acaba sendo uma surpresa para Virginia. Os alunos em peso começam a contestá-la. Ela não sabe responder às perguntas. Sente-se acuada. Eles a acusam de falsa. De mentirosa. De ser uma fraude. Assustada, sem conseguir impor-se como autoridade, ela determina que aula terminou e sai da sala que aos gritos continua acusando-a.
Exausta, sentindo que se encontra em um eterno retorno de dor e sofrimento, uma ideia a cutuca de leve. Estou cansada disso tudo. Nada muda. O desânimo é demais! Com mais Rivotril ela se deita.
Escuta seu namorado a avisando que não poderá vê-la. Faz tempo que ele não a chama de meu amor, que não diz que a ama. Desliga o telefone. Mas, nas possibilidades apenas presentes em sonhos ou pesadelos, ela o vê no telefone. Ele está falando docemente com alguém. Chama esta pessoa de querida, de doce. Diz que a ama e que logo estará com ela. Não.. eu não estou ocupado.. Eu nunca estarei ocupado para você, meu amor. Virginia sente o gelo estacado em seu coração. Acorda com a dor ainda presente no peito e sente vermes sobre seus olhos, formigas enchendo sua boca. Finalmente tem coragem de abrir os olhos...
... e vê...

... a tampa do caixão.
(texto: Susan Blum. Imagens: internet.)

FICÇÃO (ou REAL?) - SER TÃO

Moça parada na ponte.
Lata na cabeça.
Olho na inundação de seca.
Moça respira pó.
Olhos molhados.
Olhando a seca alagando.
(texto: Susan Blum. Imagem: internet.)

sábado, 8 de junho de 2013

REAL (ou ficção) - OVNI bate em avião

EXTRA! EXTRA!

Avião é atingido por OVNI a oito mil metros de altura.

Bateram no avião e fugiram do local.

A polícia intergalática já interceptou. Bafômetro acusa 2,8 ml de álcool no sangue esverdeado.. 

As autoridades dizem que eles perderão a carteira!

Segundo investigações, uma câmera registrou que eles estavam acima da velocidade da luz.

Segundo uma testemunha religiosa, Deus protege os bêbados e as criancinhas.

http://noticias.band.uol.com.br/mundo/noticia/?id=100000604767&t=


Segundo António Campos Leal "Ao menino e ao borracho, põe deus a mão por baixo" é assim que se diz deste lado do mar.

FICÇÃO - Drummond em 5 atos - manifestações de JUNHO de 2013 BRASIL.

Uma ressaca me pegou de surpresa, 
lavando as pedrinhas de areia do caminho.
No meio do caminho tinha o mar.  
Dois amiguinhos vieram ver as ruas comigo.
No meio do caminho tinham latidos.
Eu não sei torcer para times, apenas torço as palavras a meu bel prazer, para fazê-las buriladas. 
As bolas não me impressionam tanto quanto as pedras.
No meio do caminho tinha a fanática 
que me enfiou a corneta na boca.
Foi dado a mim o carinho da rosa, 
para este velho cansado de tantas pedras pelo caminho.
No meio do caminho tinha o sorriso, sincero, sem intenções.

(agradeço ao amigo Marcelo Del'Anhol pelas imagens)

INSERINDO EM JUNHO DE 2013:
(Minha esperança é que o Brasil não pare de MUDAR, para melhor!)

FICÇÃO - CASAMENTO

Respiro o sol de sua boca noturna.

Respiro o crepúsculo de seus ouvidos entardecidos.

Respiro a geada de seus olhos matutinos.


FICÇÃO - Conto de fadas (texto de Ricardo Ramos Filho)

Rugas muitas. Olhos: dois bugalhos no meio da cara. Braços e pernas finos, quebradiços. Pele quase lisa, cabelos raros. Corpo encurvado. Boca enorme, beiços bambos. Pele quase verde. Velhice. Uma bruxa chamada tempo transformou-o em sapo. Nenhum príncipe vai dar jeito.
(Texto de Ricardo Ramos Filho - gentilmente cedido, originalmente colocado no facebook pelo autor)

sábado, 1 de junho de 2013

FICÇÃO - Pessoas

Quando criança eu não tive amigos imaginários, talvez porque tivesse os gatos como companhia constante. Mas sei de várias pessoas que diziam ter tido algum amiguinho imaginário. 

Calma, pais e professores. Ter um amigo imaginário NÃO é sinal de loucura. Provavelmente a sua criança tem muita criatividade. E talvez se sinta só. É muito comum primeiros filhos terem amigos imaginários. Mas isso também pode ocorrer com outros filhos.
Se sentir só e estar na solidão são duas coisas diferentes. Já me senti só, sim. Claro. Por incrível que possa parecer quando estava me relacionando com alguém e na presença dessa pessoa. Já a solidão é uma amiga por quem tenho MUITO carinho.  
Gosto de ficar sozinha. De ouvir música, de dançar, de pintar, de ler, de apenas olhar pela janela (logo, logo, pela sacada).
Mas, voltando ao ponto: amigos imaginários (essas pessoinhas que acompanham outras pessoas).
Os amigos imaginários são "pessoas" que podem nos ajudar com reflexões sobre nossas vidas. Como espelhos (daí a palavra refletir) vão nos indicando possibilidades de autoconhecimento. Coisa que falta para muitos grandões por aí. 
Se ter um amigo imaginário é sinal (na maioria das vezes) de que se é uma pessoa criativa, pensemos em grandes seres humanos que tiveram amigos virtuais. Não temos conhecimento disso (pelo menos eu não pesquisei se algum deles comenta sobre isso) e eu ADORARIA poder voltar no tempo e entrevistar: Newton, Einstein, Tesla, Madame Curie, Hipátia, Hildegard de Bingen, Maria Gaetana Agnesi, Ada Lovelace, Elizabeth Arden, Florence Sabin, Virginia Apgar, Helen Keller, Nise Silveira, Johanna Dobereiner, Gertrude Bell Elion, Picasso, Van Gogh, etc. para perguntar se eles tiveram essas pessoinhas imaginárias quando crianças.
Um desses seres humanos que eu gostaria de entrevistar é Fernando Pessoa. Por motivos óbvios. 
Pensei em tudo isso ao ler no Facebook um escrito da Bruna:

"Vai sair sozinho de novo, Fernando?!" - "Não, mãe! Vai eu, o Alberto, o Álvaro e o Ricardo" 
 Tem como não pensar nele e seus "amigos imaginários"?
Aliás, só para constar: na verdade Fernando fez mais de dez heterônimos, ok?

Peguei em um site:

01. Dr. Pancracio - jornalista de A PALAVRA e de O PALRADOR, contista, poeta e charadista.

02. Luís António Congo - colaborador de O PALRADOR, cronista e apresentador de Eduardo Lança.
03. Eduardo Lança - colaborador de o PALRADOR, poeta luso-brasileiro.
04. A. Francisco de Paula Angard - colaborador de o PALRADOR, autor de «textos scientificos».
05. Pedro da Silva Salles (Pad Zé) - colaborador de o PALRADOR, autor e director da secção de anedotas.
06. José Rodrigues do Valle (Scicio), - colaborador de o PALRADOR, charadista e dito «director literário».
07. Pip - colaborador de o PALRADOR, poeta humorístico, autor de anedotas e charadas, predecessor neste domínio do Dr. Pancracio.
08. Dr. Caloiro - colaborador de o PALRADOR, jornalista-repórter de «A pesca das pérolas».
09. Morris & Theodor - colaborador de o PALRADOR, charadista.
10. Diabo Azul - colaborador de o PALRADOR, charadista.
11. Parry - colaborador de o PALRADOR, charadista.
12. Gallião Pequeno - colaborador de o PALRADOR, charadista.
13. Accursio Urbano - colaborador de o PALRADOR, charadista
14. Cecília - colaborador de o PALRADOR, charadista.
15. José Rasteiro - colaborador de o PALRADOR, autor de provérbios e adivinhas.
16. Tagus - colaborador no NATAL MERCURY (Durban).
17. Adolph Moscow - colaborador de o PALRADOR, romancista, autor de «Os Rapazes de Barrowby».
18. Marvell Kisch autor de um romance anunciado em O PALRADOR, («A Riqueza de um Doido»).
19. Gabriel Keene - autor de um romance anunciado em O PALRADOR, («Em Dias de Perigo»).
20. Sableton-Kay - autor de um romance anunciado em O PALRADOR, («A Lucta Aerea»).
21.Dr. Gaudêncio Nabos - director de O PALRADOR (3.ª série), jornalista e humorista anglo-português).
22. Nympha Negra - colaborador de O PALRADOR, charadista.
23. Professor Trochee - autor de um ensaio humorístico de conselhos aos jovens poetas.
24. David Merrick - poeta, contista e dramaturgo.
25. Lucas Merrick - contista (irmão de David?).
26. Willyam Links Esk - personagem de ficção que assina uma carta num inglês defeituoso (13/4/1905).
27. Charles Robert Anon - poeta, filósofo e contista.
28. Horace James Faber - ensaísta e contista.
29. Navas - tradutor de Horace J. Faber.
30. Alexander Search - poeta e contista.
31. Charles James Search - tradutor e ensaísta (irmão de Alexander).
32. Herr Prosit - tradutor de O Estudante de Salamanca de Espronceda.
33. Jean Seul de Méluret - poeta e ensaísta em francês.
34. Pantaleão - poeta e prosador.
35. Torquato Mendes Fonseca da Cunha Rey - autor (falecido) de um escrito sem título que Pantaleão decide publicar.
36. Gomes Pipa - anunciado como colaborador de O PHOSPHORO e da Empresa Íbis como autor de «Contos políticos».
37. Íbis - personagem da infância que acompanha Pessoa até ao fim da vida nas relações com os seus íntimos que sobretudo se exprimiu de viva voz, mas também assinou poemas.
38. Joaquim Moura Costa - poeta satírico, militante republicano, colaborador de O PHOSPHORO.
39. Faustino Antunes (A. Moreira) - psicólogo, autor de um «Ensaio sobre a Intuição»).
40. António Gomes - «licenciado em philosophia pela Universidade dos Inúteis», autor da «Historia Cómica do Çapateiro Affonso».
41. Vicente Guedes - tradutor, poeta, contista da Íbis, autor de um diário.
42. Gervásio Guedes - (irmão de Vicente?) autor de um texto anunciado, «A Coroação de Jorge Quinto», em tempos de O PHOSPHORO e da Empresa Íbis.
43. Carlos Otto - poeta e autor do «Tratado de Lucta Livre».
44. Miguel Otto - irmão provável de Carlos a quem teria sido passada a incumbência da tradução do «Tratado de Lucta Livre».
45. Frederick Wyatt - poeta e prosador em inglês.
46. Rev. Walter Wyatt - irmão clérigo de Frederick?
47. Alfred Wyatt - mais um irmão Wyatt, residente em Paris.
48. Bernardo Soares - poeta e prosador.
49. António Mora - filósofo e sociólogo, teórico do Neopaganismo.
50. Sher Henay - compilador e prefaciador de uma antologia sensacionalista em inglês.
51. Ricardo Reis - HETERÓNIMO.
52. Alberto Caeiro - HETERÓNIMO.
53. Álvaro de Campos - HETERÓNIMO.
54. Barão de Teive - prosador, autor de «Educação do Stoico» e «Daphnis e Chloe».
55. Maria José - escreve e assina «A Carta da Corcunda para o Serralheiro».
56. Abílio Quaresma - personagem de Pêro Botelho e autor de contos policiais.
57. Pero Botelho - contista e autor de cartas.
58. Efbeedee Pasha - autor de «Stories» humorísticas.
59. Thomas Crosse - inglês de pendor épico-ocultista, divulgador da cultura portuguesa.
60. I.I. Crosse - coadjuvante do irmão Thomas na divulgação de Campos e Caeiro.
61. A.A. Crosse - charadista e cruzadista.
62. António de Seabra - crítico literário do sensacionismo.
63. Frederico Reis - ensaísta, irmão (ou primo?) de Ricardo Reis sobre quem escreve.
64. Diniz da Silva - autor do poema «Loucura» e colaborador de EUROPA.
65. Coelho Pacheco - poeta in ORPHEU III e na revista projectada EUROPA.
66. Raphael Baldaya - astrólogo e autor de «Tratado da Negação» e «Princípios de Metaphysica Esotérica».
67. Claude Pasteur - francês, tradutor de CADERNOS DE RECONSTRUÇÃO PAGÃ dirigidos por A. Mora.
68João Craveiro - jornalista sidonista.
69. Henry More - autor em prosa de comunicações mediúnicas - «romances do inconsciente» como Pessoa lhes chama.
70. Wardour - poeta revelado em comunicações mediúnicas.
71. J. M. Hyslop - poeta revelado em comunicação mediúnica.
72. Vadooisf [?] - poeta revelado em comunicação mediúnica
(retirado de http://www.pessoa.art.br/?p=704) 
Obrigada, Bruna Pacheco, por me proporcionar estas reflexões.