novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......
convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

sábado, 8 de novembro de 2014

REAL (com ficção) - texto e imagem (foto de Sofia Piantavani)

Por vezes me inspiro rapidamente com imagens de amigos ou textos deles.
Desta vez não foi diferente. Minha amiga Sofia Piantavani tirou esta foto hoje e inseriu um texto que reproduzo aqui:

" - E essa sujeira toda!! Quem é que vai limpar?? 

Assim falava a dona de casa com TOC 

[transtorno obsessivo compulsivo]"

Paço da Liberdade
08/11

 Daí me veio a pronta resposta:
"- E essa beleza toda!!
Quem é que vai mirar?"

"E essas flores todas!!
Quem é que vai chorar?"

"E essas falas tolas!!
Quem é que vai amar?"

FIM
(graças a Deus dirão vocês!)

sábado, 1 de novembro de 2014

FICÇÃO - A BOCA (texto de Magro)



“Tu podes ser senhor do que falas; mas serás um eterno escrevo do que dizes”
(Lao_Tsé)


 A boca, inconsequente e delirante, como era, escancarou-se num berro alto e indevido.

      - Basta!

      Foi um basta, gritado, extraído com dor do fundo do corpo, sem anestesia, sem carinho, deixando vago na alma, seu suposto espaço.
      O grito; o basta, extrapolou a barreira do corpo, ressonou nas paredes próximas, quebrou vidraças e ganhou a liberdade das ruas.
      Sujo de saliva e sangue, misto de onda sonora e corpo vivente, era um basta consistente e concreto.
      A boca, havia sido criada para aquilo, ser o que era, fazer o que vinha há séculos fazendo, quieta, resignada, calada e cordeira. Ele, menino, filho, homem, esposo e pai.
      Trabalho, casa; casa, trabalho.
      Sentiu; homem, dores de parto; nadou em amores renegados, andou descalço em saldos sem fundos, em contas, em desamores, em trabalhos e em casas. Trabalho, casa; casa, trabalho.
      Cérebro metálico, peça quase biomecânica, tão frio e controlado que era, não deixava transparecer nada, a não ser o traço de despreocupação e contentamento, na face externa e diariamente estudada.
      Mas a boca; sempre ela, tentava falar, como um vício difícil de largar, como uma praga daninha que não se aquieta e não desiste de invadir o calmo campo semeado de candura.
      Boca safada, insistente e atrevida, querendo fazer-se pensante, metida à massa cefálica.
      Boca controlada a força, camisa de força feita de nervos e remorsos; temores e preocupações. Contida com esforço em prisão domiciliar.
     Cérebro, atento a tantos outros tentos, tantos outros tortos, tantos outros outros; que se cansa, e como corpo, fraqueja e manca.
      A boca matreira, esperta e louca, aproveita a deixa e berra!
      Manda à merda a terra, a casa, a vida; a fera.
      Abre, se escancara e, como simples fosse, grita:


      - Basta! 


(Texto: Moacir Costa - Magro.  Imagens: Internet)
Gostou? Tem outros textos do Magro aqui no blog:
http://novelosnadaexemplares.blogspot.com.br/2014/04/ficcao-bala-perdida-de-moacir-costa.html