novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......
convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

FICÇÃO - Fantomas contra los vampiros multinacionales

Julio Cortázar!
Precisa falar algo?
Creio que não!
Mas trago hoje dois trechos do maravilhoso "Fantomas contra los vampiros multinacionales".

“¿Qué son los libros al lado de quienes los leen, Julio?

¿De qué nos sirven las bibliotecas enteritas si sólo les están dadas a unos pocos? También esto es una trampa para intelectuales. La pérdida de un solo libro nos agita más que el hambre en Etiopía, es lógico y comprensible y monstruoso al mismo tiempo. Y hasta Fantomas, que sólo es intelectual en sus ratos perdidos, cae en la trampa como acabamos de verlo.”)
 
 
" - Ahora - dijo Susan después de chupar en algo que desde luego no era un mate amargo -, comprenderás por qué te hable de la sentencia del tribunal. La aventura de Fantomas es una vez más el Gran Engaño que los expertos del sistema nos han puesto por delante como una cortina de humo, igualito que en su tiempo la Alianza para el Progreso, o la OEA, o la reforma en vez de la revolución, o los bancos de fomento y desarollo, no sé se hay uno o dieciocho, y las fundaciones dadoras de becas, y..."
 
 

domingo, 21 de outubro de 2012

FICÇÃO - Albert e Mileva (Veríssimo)

No livro Diálogos Impossíveis, Veríssimo cria uma possibilidade ficcional que me inspirou a novos diálogos improváveis. Vejam o texto do escritor:

Albert Einstein e sua mulher Mileva viveram separados durante cinco anos antes de se divorciarem em 1919. Foi Einstein que telefonou para Mileva para dizer que queria o divórcio.

- Albert. Que bom ouvir sua voz!

- Como vai você, Mileva?

- Bem, bem. E você vai muito bem, não é, Albert? Está famoso, é chamado de gênio...

- O pessoal exagera um pouco.

- E a nossa separação, Albert? Quanto tempo ainda vai durar?

- Era sobre isso que eu queria falar com você, Mile. Acho que nós devíamos nos divorciar.

- Divórcio, Albert? Depois de tudo que nós passamos juntos?

- Mileva...

- Lembra quando nos conhecemos na Polytechnische de Zurique? Nós dois estudando matemática e física?

- Lembro, Mile. Você era até melhor aluna do que eu.

- Lembra do nosso casamento em 1903?

- Claro.

- Lembra de 1905?

- Como esquecer? O ano miraculoso em que foram publicadas as quatro teses que revolucionaram a física e fizeram minha reputação. E você estava ao meu lado.

- E tudo isso não significa nada para você?

- Significa, Mile. Mas acabou. Acho que o divórcio vai ser melhor para nós dois.

- Para você, certamente.

- Mileva, não seja assim...

- Agora você vai poder se casar com a Elsa. Não é isso que você quer? Ou você pensa que eu não sabia do caso de vocês, mesmo quando ainda estávamos juntos? Elsa, Albert. A sua própria prima!

- Eu esperava que você fosse mais compreensiva, Mile.

- Eu sou compreensiva, Albert. Não sei se a Elsa vai ser tão compreensiva quanto eu fui.

- Ela me ama e me apoia.

Mas será que ela faria o sacrifício que eu fiz, para que o nosso casamento desse certo?

- Que sacrifício?

- Você esqueceu como eu fui compreensiva quando aceitei que você assinasse os quatro artigos revolucionários que eu escrevi sozinha, e levasse toda a glória? Eu não esqueci.

- Depois daqueles artigos, publiquei muitos outros igualmente importantes, Mile.

- Como aqueles, não, Albert. Aqueles fizeram história. Aqueles mudaram o modo de pensar sobre o Universo. A ciência nunca mais foi a mesma depois dos quatro artigos publicados em 1905. Dos meus quatro artigos.

- Eu nunca neguei a sua capacidade.

- Mas o mundo nunca ficou sabendo, não é, Albert? Talvez seja a hora de saber...

- Você está me chantageando, Mileva?

- Não. Só estou pensando em reparar uma injustiça.

- Você lembra por que eu quis assinar os artigos, em vez de você?

- Lembro. Você disse que ninguém acreditaria que eles tinham sido escritos por uma mulher. E eu, compreensiva, para não ameaçar nosso casamento, concordei.

- E você acha que hoje, em 1919, seria diferente de 1905, Mileva? Ninguém vai acreditar que você á a autora dos artigos. Vão dizer que é uma invenção vingativa de uma mulher despeitada. Para aceitarem que uma mulher possa ser um gênio da física como um homem é preciso que passe muito tempo ainda. Você esqueceu a importância do tempo na sua própria teoria, Mile?

- Eu sei, tudo é relativo, e o tempo mais do que tudo. Mas se houvesse um confronto entre nós dois para saber quem está falando a verdade, eu provaria a minha autoria. Você nunca entendeu muito bem as minhas teorias, não é, Albert?

- Mile, você faria isso? Só para evitar que eu casasse com a Elsa?

- Não, Albert. Fique com sua reputação, com seu gênio e com sua Elsa. Eu não faria isto. Eu continuo uma mulher compreensiva. Injustiçada, despeitada, mas compreensiva.

- Você me perdoa, Mile?

- Talvez com o tempo, Albert.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

FICÇÃO - O primeiro encontro (de Guilherme Moratto)

Este conto é de um aluno meu.


Nunca vou me esquecer. Era uma quarta-feira. Acordei cedo, me vestindo da melhor forma possível, afinal, a ocasião merecia. Tentei engolir alguma coisa, mais não consegui. Tomei apenas um bom gole de café, quente e forte. Sai às pressas, tinha um longo caminho para andar. O sol começava a nascer e a manhã estava linda, como eu havia pedido. Segui caminhando, perdendo-me em meus pensamentos. Quando me dei conta, estava quase chegando a meu destino. Virei à direita e entrei na pequena trilha, que apenas eu conhecia, e continuei andando, desviando dos galhos das árvores que cobriam o caminho. Não demorou muito para avistar o lugar onde passava a maioria das minhas tardes. Era como se fosse minha segunda casa. Meu verdadeiro lar.
Avancei e avistei minha linda campina. A mais linda das campinas de todo Vale Suede. Eu a havia batizado de campina das cores. Qualquer um que a visse entenderia o porquê deste nome. Havia flores de todos os tipos, tamanhos e cores. Era rodeada por um círculo completo e exato de árvores, que guardavam e protegiam minha linda campina. As cores se misturavam, transformando-se em um tom psicodélico. Estava tudo perfeito. Como eu imaginara. Tudo perfeito para nosso primeiro encontro. O dia em que veria, pela primeira vez, meu grande amor.
Estava nervoso, pensei em ver as horas, mas desisti. Deitei-me na grama, e esqueci tudo o que tinha neste irrelevante mundo material. Respirei calmamente e pedi para que o espírito da mãe natureza viesse a mim. Pouco a pouco, comecei a sentir o vento quente da primavera batendo sua brisa em meu corpo. Ouvi o lindo canto dos pássaros, que diziam que tudo iria dar certo. Senti o cheiro da terra, ainda úmida, e da grama onde estava deitado. Acalmei-me. Adormeci.
Não tive tempo de sonhar. Acordei sentindo sua presença. Levantei-me, olhei uma última vez para a campina, agradecendo por tudo que ela já havia me proporcionado. Quando me virei para ir a sua procura, vi seu corpo, lindo e forte, na entrada da campina. Meu coração disparou. Tudo aconteceu em segundos, mas foi claro. Instintivamente, corremos um para o outro, parando no meio da campina, com um lindo e longo abraço. Olhamos-nos, estávamos sem palavras. Abraçamos-nos novamente e recitei em seu ouvido, aos sussurros, aquele lindo poema que escrevi especialmente para ele. Era simples, mais dizia tudo: “E pela segunda vez ele bate. Desesperado, apaixonado por você.”. Nos demos as mãos e ficamos em silêncio. Não conseguíamos acreditar que aquilo estava acontecendo. Estávamos imóveis.
Puxei-o para mais perto de mim e como se o tempo estivesse parando, aproximei seu rosto do meu e nossos lábios se encontraram. Seu gosto era maravilhoso, seu toque, intenso. Ele levantou seus braços e envolveu-os em meu pescoço. Estávamos conectados por um amor que ninguém poderia destruir.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

FICÇÃO - Bota aqui o seu pezinho...

Meu amigo Carlos Loria escreveu este texto que reproduzo aqui:

 


Será que a professorinha também tem vergonha dos pés? Sim, creio que sim; tem vergonha de que fiquem olhando pra eles. No verão de Curitiba, calça umas sandálias abertas e sabe muito bem que a podofilia ainda não recebeu atenção acadêmica suficiente. Sabe que as pessoas ardem por pés. Quando está no ônibus olha de soslaio pra ver se algum tarado não está a lhe cobiçar os pezinhos. Na hora do banho, olha para baixo e fica pensando: “onde é que está a graça? Esses homens são uns bobos!” E então passa o lado mais áspero da esponja e uma grande lixa para deixá-los limpos e macios. Depois borrifa um pouquinho de talco e calça as pantufas. (Uma hora dessas poderão ser beijados...) a professorinha é uma mulher prevenida.
E, com um sorriso, sai despreocupada e quase descalça por ruas perigosas.

p.s. fiquei lembrando da música infantil, ai bota aqui o seu pezinho, bem juntinho com o meu. E depois, não vá dizer, que você se arrependeu... Não tinha percebido quão linda é essa música se for vista como um pedido de "namoro", ou seja, um relacionamento.
E depois, não vá dizer...
que você se arrependeu!

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

REAL - poesia para Susan

Sonhinhos de Susan Blum
 
Já bem cedinho, Susan Blum começa a se mexer
pois permaneceu imóvel durante toda a noite.
Então, sem mais, vai para bem longe de sua casinha
feita em alguma árvore da cidade.
Mas como sabe se orientar, acaba sempre voltando,
no finzinho da tarde.
Aí, cai num sono profundo,
com as penas sobrepostas feito um telhado
e oclusos pequenos olhos.
Feito isso, sua plumagem se desfaz em telhinhas soltas
a flutuar coloridas,
e Susan, ao amanhecer,
vai recolhendo uma a uma.
Carlos Loria (poeta  Salvador) 
(imagens da internet)

domingo, 7 de outubro de 2012

FICÇÃO - Doçura

A mãe de seu namorado liga para ela, desesperada. "Meu filho morreu, Delia!" soluços "Nosso amorzinho, o Mario, está morto!".
Delia lentamente desliga o telefone. Não demonstra nada em seu rosto ou corpo. Estática.
Há poucas horas havia enviado o último torpedo de amor para ele.
Relembra os últimos meses com ele. Sempre lhe tecendo surpresas. Uma delas era comprar vários chocolates que ele adorava e espalhar pela casa dele no domingo de noite, antes de sair do final de semana maravilhoso de amor, filmes e conversas agradáveis de madrugada, após o sexo. 
Durante a semana ficava então enviando um fio contínuo de torpedos para ele. 
Avisando: "abra a segunda porta do armário da cozinha".


 Ou então:  "Veja em cima do livro "A marca humana" em seu escritório". E assim passava a semana, ele maravilhado com a doçura dela, encantado em achar os bombons espalhados pela casa.
 "O doce-surpresa está dentro de nossa caixa de brinquedos eróticos"
Nas últimas semanas ele sempre dava uma desculpa qualquer para ela não dormir na casa dele nos fins de semana... mas ela sempre aceitava o atarefado namorado.
Um dia, em sua casa, abre o e-mail dele para ver se chegou notícias de um concurso que ambos entraram. Vê então uma mensagem de amor de uma mulher. Procura mais e vê mensagens dele para ela. Chamando-a de amor. Dizendo que tinha que resolver um problema com uma pessoa que ele não amava mais, mas que ainda respeitava.
Lentamente, Delia pega seu celular. Seus dedos entorpecidos enviam a mensagem que ela nunca esperava ter que mandar.


E depois de algumas horas ela recebe a notícia aguardada.
 
   (este conto é uma homenagem ao conto Circe, de Cortázar) Fotos: Susan Blum

REAL - Eleições

Durante o ano de 2012, eu sempre via (escrito com giz) nas paredes dos viadutos ou de casa abandonadas: Pedro Lauro quer cassinos.
Achava que era apenas loucura de alguém: um sugismundo imbecil que não conhece a realidade dos cassinos. Dos problemas sérios que estão envolvidos com isso, seja lavagem de dinheiro, seja problemas de vício de jogo, entre vários outros. Que há muito mais contras do que prós nesta ideia idiota (em vez disso, que tal investir mais em boas escolas e bons professores??).
Depois, com o tempo,  apareciam "plaquinhas" (portas de armários, etc..) escrito em vermelho: Pedro Lauro quer cassinos. Pedro Lauro tirar os trens daqui (tá.. e colocar onde?? ou vai ficar tudo em caminhões que estragam mais as estradas e que congestionam o trânsito ou que provocam mais acidentes?).
 (ele não sabe a diferença entre reciclar e reutilizar?)
Enfim.. quando iniciou a campanha, descobri que este tal de Pedro Lauro além de ser um sugismundo, um completo apedeuta, também é um candidato!! 
E, PIOR! Um candidato falso. Pois vi vários santinhos espalhados pelas ruas se mostrando, ora coxa branca, ora atleticano, ora paranista. E tem gente que se engana com pessoas assim.
 Além de tudo isso, imaginei que esta campanha teria menos sujeira. Ledo engano!
Além das placas que atrapalharam durante toda a campanha (estas pelo menos foram retiradas) agora, HOJE, os santinhos, e tudo o mais que estavam espalhados pela cidade, quase me fizeram cair com a bengala, pois não tinha apoio em um chão tão escorregadio de papel... imagina se tivesse chovido. Uma vergonha. 
A GRANDE maioria dos santinhos eram dos coligados ao "Rato" e ao "Doce".
Enfim. Fiz a minha parte. Votei com consciência de QUEM é meu candidato. E do que ele pode fazer. Caso não vença, saberei cobrar (e MUITO) de quem ganhar!
(texto e fotos: Susan Blum) - sete de outubro de 2012