Ele devia ser objeto de livros, monografias, dissertações, etc.
Um ser humano fantástico!
Através da gentileza dele em ceder um material inédito é que posso apresentá-lo a vocês.
Vejam um pouco do talento desse homem que criou em uma determinada época charges, caricaturas e que também faz fotografias lindíssimas (textos e imagens a seguir, do próprio autor).
Era o cerrado
paranaense hoje extinto, não fossem agora os míseros 400 hectares confinados no
Parque Estadual do Cerrado, município de Jaguariaíva.
O capitalismo das
commodities e a imigração dos colonos holandeses botaram abaixo a natureza
nativa, em nome da soja, do milho, do trigo e dos pastos pra vacada de luxo,
malhada de preto e branco.
A família se
enfiou num caminhão de mudança e bateu chão até Curitiba. Missão: educar as
três crianças, eu o mais velho.
Colégio Estadual,
faculdade, muitos empregos pela vida afora, sempre ligados às letras, texto,
jornalismo, desenho. Agronomia e jornalismo, as profissões de carteira.
Casório,
ex-casório, ajuntório, aprontório, o mundo seguindo entre uma guerra mal
acabada e outra(s) por começar(em).
Mas nunca me
saíram da cabeça os cantares do chão seco, a solidão do meio do mundo, a viração de todo dia para
merecer a janta, sem precisar vender o almoço.
Um pouco desse
canto vai nos versos que dedico ao povo que morava no Distrito do Cerrado,
depois rebatizado de Cachoeirinha. Por fim,
que virou município de Arapoti.
Mas, aí, a morte
já rondava o meu cerrado.
"Distrito do
Cerrado"
Onde corre o Rio
das Cinzas,
Cresce uvaia,
jurubeba.
Fuça o chão o
tatu-peba
Água molha as
pedras lisas,
Onde o lobo-guará
pisa,
Vem ali matar a sede.
Cerrado seco, sem
verde
Faz noite de lua
cheia
Esqueço na rede a
peleia
No campo meus
olhos se perdem.
Os galos
encordoam cantos
Mais uma hora e
clareia
A aranha inda
arruma a teia
Dou três bocejos,
levanto
Acho a sandália
num canto
Ponho água na
bacia
Vou pra fora ver
o dia
Mas, antes, me
lavo a cara
As roupas secas,
na vara.
Me visto. O
inhambu pia.
O que fiquei de
contar
Espero o dia
acabado
O corpo na bica
lavado.
Vou me ajoelhar e
rezar
A vela acesa no
altar
Da capelinha de
oiti
Que do meu pai
recebi
Mas veio da
antiga senzala
Pra prateleira da
sala.
Era antes que eu
nasci.
Já cheira o café
adoçado
Coado no bule de
esmalte
Chamo o cachorro
e reparto
O ovo mexido, o
virado,
o leite, o aipim
assado.
Limpo o chão da
patativa.
Banana e melão
pra tiriva.
Vou bem cedo pro
roçado
Foiçar o capim
pro gado
Chuchar no eito
as manivas.
Passo o dia
matutando.
Quando me esticar
na rede,
Ou, numa cadeira
do alpendre,
Co'a viola
ponteando
Os versos que vou
declamando
O que tirar da
memória:
Fazer uma nova
história?
Fingir que é tudo
verdade,
Chorar sem fazer
alarde
E rir desta vida
inglória.
Durmo em rede de
solteiro.
Vivo só. Só eu
comigo.
Por isso, as
coisas que digo,
Minhas rimas de
violeiro
São as dores de
um caseiro.
Quem ouve? Um
cão, passarinhos.
Oh, ermo! não
tenho vizinhos,
Mas teimo em
tirar cantoria
Da minha vida
vazia,
No fim deste meu
caminho.
Creio que a maioria das pessoas conhece os elementos. Mas vou copiar aqui um trecho que Ivan me escreveu, por e-mail:
"A palmeira é um buriti.
Planta que é marca registrada no cerrado.
Citada por Guimarães Rosa e tantos outros.
Ela cresce nas chamadas "veredas", que são galerias encharcadas, que percorrem as partes baixas dos campos. E permanecem verdes o ano inteiro. Ao contrário do campo, onde tudo seca e tem aspecto de queimado.")
Fico sem palavras, Susan.
ResponderExcluirPerfeição gráfica, tudo muito lindo.
E toda a atenção para essas trovas do povo que vive (vivia?) num canto do Paraná que um dia foi pejorativamente chamado de "Ramal da Fome".
O antiquíssimo caminho dos tropeiros que tropeavam gado do Sul até as feiras de Sorocaba.
Quem imaginaria que, numa era agora digital, o nosso minúsculo cerradinho, fosse ganhar esse espaço que mais parece um latifúndio!
Eita, nós!
Um agradecimento do fundo do coração.
Sucesso para o blog.
Ivan, se ficou bonito, foi graças ao seu talento com as palavras e com os desenhos! Fico contente que tenha ficado satisfeito com a disposição! Seus desenhos deveriam estar em uma exposição! Já falei para você e repito: tudo isso merece um LIVRO! E não estar aqui... mas me sinto honrada por permitir.
ExcluirEsse cara é um engodo. Pena que ainda impressiona os desatentos. Desculpe, mas infelizmente cheguei a conhece-lo bem. Um patológico atreas de atenção a todo custo. Me engana que eu gosto.
ResponderExcluirCara Lina, como tenho respeito por todo e qualquer ser humano e porque acredito na liberdade de expressão, não vou deletar sua mensagem. Porém, como dona do blog me vejo no direito de resposta. Em primeiro lugar, não me considero uma pessoa desatenta. Ao contrário, procuro observar com atenção as pessoas em todos os sentidos (e digo isso não só por causa de minha formação como psicóloga ou em Letras, mas como ser humano cuidadoso). Em segundo lugar, em nenhum momento o Ivan me procurou ou solicitou absolutamente NADA. Ou seja, não se trata de chamar a atenção. E, não só como ser humano, mas como psicóloga posso garantir que não é patológico (não mais que eu ou você ou qualquer outra pessoa). Sinto, no entanto que há uma mágoa em você. Creio que deve estar atenta ao motivo disso e trabalhar em vc mesma. Pois se divulgo os textos e desenhos dessa pessoa que se mostra generosa não só comigo mas com várias pessoas, não é à toa. E sim porque vejo arte no que ele faz. Caso tenha conhecimento de plágio, fraude ou algo do gênero (o que eu duvido pois o vi desenhar pessoalmente) solicito que faça seus comentários com argumentos válidos e não com palavras ferinas sem provas. Obrigada por se manifestar, mas espero que, se responder ao meu texto, seja com convicção e racionalidade e não com raivas ou ressentimentos. Um abraço!
ResponderExcluirPeço desculpas se invado seu espaço, mas quem publíca esta passível de criticas e comentários, assim como tem a prerrogativa de apagá-los. Seria simplismo a tão graduado ser, achar que é mágoa. Imagino o quão qualificada seja com toda essa formação mas não é o caso. Apenas, por conhecimento de causa, expressei e sustento minha impressão sobre esse cara: Ou muito cínico, ou muito ingênuo ou os dois. Dai acha-lo patológico. Se separar-se a obra do autor é louvavel, porém mediocre. É o que acho. Boa tarde.
ResponderExcluirEm nenhum momento eu disse que invadiu o espaço... ele é público e virtual. Apenas não quero comentários sem argumentos (o que continuou). E eu não disse que ERA mágoa, apenas disse o que eu SENTIA (claro que passível de análise, afinal nem conheço vc). Novamente vc fala em conhecimento de causa, mas não relata nada.. Ou seja, não levarei mais em consideração seus comentários. Pois criticar sem base não faz parte do meu estilo de vida. Tenha uma ótima vida!
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