novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......
convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

domingo, 25 de junho de 2017

FICÇÃO - Comida.

Todos os dias acabava escutando a mesma coisa. A mãe pedindo, primeiro com doçura, e depois com impaciência, que a filha levasse comida e remédios para a avó. Se a avó morasse em outro bairro mais distante, eu até entenderia. Mas a avó morava ali mesmo, mesma casa, quartinho dos fundos. Todos os dias acabava escutando a mesma coisa. A filha/neta primeiro se fazia de surda, depois obedecia resmungando.

Isso foi cansando meus ouvidos sensíveis. Primeiro, sensíveis aos gritos, depois à indiferença da filha/neta. Sendo vizinho, isso me incomodava todos os dias. Um dia, decidi resolver aquela situação. Doía meu coração acompanhar tudo aquilo. Pulei o muro, fui até o quartinho da avó, dei a ela os remédios. 


Em uma dose capaz de matar até mesmo um elefante: livrei-a daquele suplício de sobreviver de forma tão indigna. Depois, fiquei esperando a neta, ali mesmo, deitado na cama da avó. Quando ela chegou, levantei de um pulo, a puxei para baixo das cobertas. Ensinei-lhe a sobre a importância de se atender bem ao próximo.

(Texto: Susan Blum.  Foto: internet)

domingo, 18 de junho de 2017

FICÇÃO - Convite aguardado

 Ela sempre tecia a esperança de um dia ser convidada. Ficava ouvindo seus colegas da faculdade combinando festas, churras, bares. Ela sempre ficava quieta, esperando. Mas nunca a convidavam.

É feinha... gordinha...

Fica quieta. Esperando. Sonhando.

Resultado de imagem para espelho mulher fio


Um dia, o milagre! Convidam!

É para daqui duas semanas.

Ela faz dieta, compra roupas, corta e pinta o cabelo, faz sobrancelhas, faz as unhas, está sempre na academia. Sua pele está reluzente, seu sorriso e seus olhos parecem telas bordadas de tão vívidos.

Uma verdadeira princesa.

No dia da festa, ela se arruma e fica tecendo imaginações, enquanto se admira no grande espelho do quarto: “Fulano virá conversar comigo. Vou falar sobre X coisa e ele vai dizer Y. Daí eu respondo Z. Vou sorrir (treina no espelho) e vou olhar para ele com olhos baixos e boca entreaberta (treina de novo). Vou mexer no cabelo assim (novo treino) e ele vai se aproximar. Vou sorrir timidamente e me aproximar também, bem devagarinho... daí entreabro meus lábios em um convite, e...”

Olha para o relógio. Já é a hora combinada.

Imagem relacionada


Penélope vai até o banheiro,

Lava o sonho....



E se deita!

(Texto: Susan Blum. Imagens: Internet)