novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......
convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

FICÇÃO - Dragão (texto de Luiz Wood)


De manhãzinha ainda e o sol que vinha lá dos lados da serra esquentava as minhas costas! Então, fiquei ali quietinho....me aquecendo, feito um bicho que gosta do sol!
A mãe me dizia:
-Menino, isso é sol de bicho!
E você ainda é menino!
-Deixa mãe! Aind
a sou lagartinho..
Mas quando eu crescer, viro dragão!
-E se o tal de Jorge te pegar?
-Ai eu vou pra lua!
Mas levo a senhora!


Luiz Wood

(Texto: com permissão do autor. Fotos: internet.) 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

REAL - FELIZ 2013


Ano Novo de fundo de mar
 Desejo a todos um ano novo de fundo de mar:
Que sejamos como as ostras, transformando pedrinhas ferinas em belos e brilhantes conhecimentos para nós mesmos, para serem guardados no coração. Com o poder do perdão, a fé da felicidade, o peso da paz, o amor da amizade, a chama do chamego, o calor do carinho e a sorte da sinceridade.
Que sejamos como os golfinhos: amigos, livres, felizes, fortes, corajosos e inteligentes.
Enfim. Desejo a todos o mesmo que desejo a mim: um mar profundo, calmo, cheio, enorme, com borbulhas de alegrias, com encontros de verdades, com marés de boa sorte, com ondas de sabedorias.
Lembrem-se que não há destino fechado. Conheço pessoas que acreditam em horóscopo ou em histórias escritas há anos. Não. A vida, a gente faz a cada instante. É uma escolha NOSSA. Quer algo bom para você? Lute por isso! Nada vem de graça. Os relacionamentos são construídos a cada dia, com amor, com carinho, com respeito, com admiração, com verdade.
Faça como o golfinho. Ele decide qual caminho tomar. Ele decide que pessoa ajudar. Ele decide se volta ou se continua em frente. Ele enfrenta as dificuldades que aparecem. Faça como a ostra: sim, acontecem coisas em nossa vida que não temos o controle. Pedrinhas caem dentro da ostra. Mas ela decide se faz uma pérola perfeita disso ou se faz uma pérola enjambrada (desconheço casos de ostras que não se protegem) é da natureza humana se proteger, se fechar. Mas vejam a ostra. Ela faz a pérola da pedra que incomoda. Mas não se fecha ao mar. Aparecerão outras pedras? Com certeza! Mas prefiro correr o risco de encontrar outras pedras a perder a chance de viver aberta ao mundo. Coisas boas podem cair dentro da ostra, não só pedras.
AMO a vida. AMO os bons pedacinhos de alegrias e amores que vivo. Então saboreio cada um destes instantes bons. Os ruins? Passo meu luto por eles nos tempos certos. E me abro de novo para a vida.

Enfim... FELIZ ANO NOVO PARA TODOS. Pois a vida é curta, passa rápido e não vale a pena perder os bons momentos! FELIZ 2013!
Amo muito todos vocês!
(objetos e fotos: Susan Blum)

domingo, 16 de dezembro de 2012

FICÇÃO-REAL - ALMOÇO (texto de Ricardo Ramos)

Almoço em silêncio mastigando sozinho as ideias. Senta-se em minha frente um senhor grisalho também desacompanhado. Apoia a bandeja sobre a mesa. Aperta os olhos franzindo o cenho e coloca as mãos na testa. Talvez esteja mal, cansado, alguma coisa doendo. Engano-me. Fica um tempo naquela posição. Os lábios movendo-se vagarosamente emitem pequenos e suaves estalos, delicados muxoxos. Termina a prece com um sinal da cruz distraído. Suspira profundamente livrando-se de boa quantidade de ar. Abre espaço para atacar o prato, subitamente interessado no feijão, talheres em punho. Abaixo a cabeça, olho desconfiado para a escarola refogada, carne assada ao molho, arroz integral, batatas coradas. Falta pimenta.
 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

REAL - Oscar Niemeyer

Minha pequena homenagem.


A vida é um sopro... 
e o Arquiteto soprou o cisco 
do Olho de Curitiba...



(os fortes entenderão)

Abaixo: Em Curitiba o MON passa documentário e os cidadãos colocam velas no espelho d´água.




REAL - FICÇÃO - Acordo ortográfico



Fico na dúvida. Certas palavras perdem a poesia, não? 

Por exemplo: parece que voo não sai do chão.. são duas pedras redondinhas pesadas. 

Vôo tem sua asa, seu movimento, está no ar!
Já colmeia perde a abelhinha voadora que poliniza a flor e. (esta ideia pego emprestada do meu amigo Carlos Loria).
 A ideia então? Parece que fica presa na cachola. Quando deveria se abrir ao mundo.

A única palavra que concordo é a feia subumano. Pois sub-humano parecia distante. Junta forma um ser realmente subumano (ela não é nada humana, não?)
(texto: Susan Blum. Imagens: retiradas da internet) 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

FICÇÃO - Podofilia


É assim antiga a podofilia?
Dois séculos não conseguiram apodrecer esses pés,
seus longos arcos plantares.
O corpo se arqueia e se alonga também,
para sempre: são as “deformidades”.
Genial, e mais ainda se a fizesses acariciá-los.
(Compreendo que isso ficasse por nossa conta,
teus filhos legítimos, Ingres.)
O braço porém vai acabar por fazê-lo;
já está quase lá.
E o rosto da Grande Odalisca parece dizer aos vermes:
— Esperai sentados.

(texto: Carlos Loria. Imagem: A grande odalisca (1814) de Jean Auguste Dominique Ingres)

sábado, 1 de dezembro de 2012

REAL - Tatu-Bola e fulecar!

TATU-BOLA

Bichinho lindo, engraçadinho. Uma fofura. Sempre me encantei com ele, desde pequena!
Finalmente o Brasil vai sediar uma Copa (de novo) e o que fazem?? MUITA besteira. Escolher este bicho foi totalmente lógico! Afinal, o próprio nome dele dá a dimensão exata.
Fui pesquisar sobre o bichinho:

Nome Inglês
Brazilian Three-banded-Armadillo

Nome Científico
Tolypeutes tricinctus

Alimentação
Formigas, cupins, larvas de insetos, artrópodes, ovos de pequenos répteis e frutos.

Habitat
É uma espécie que existe somente na caatinga, ecossistema que ocorre no nordeste brasileiro. Tem preferência por ambientes com solo arenoso, em regiões baixas, onde predominam as formações de caatinga arbustiva.

Distribuição Geográfica
Região Nordeste do Brasil.

Fonte: www.sueza.com.br

Então, como eu dizia: ele é a cara da Copa!
Mas por que não deixar o próprio nome dele????
Por que...
...FULECO??

Porém, pensando bem (e olhando no dicionário) este nome demonstra bem o espírito da Copa brasileira, pois fulecar significa: perder, ao jogo, todo dinheiro que se leva (ver dicionário!). Incrível. Ato falho ou não, o Brasil está mostrando o que nós brasileiros estamos perdendo no jogo: dinheiro!

E ... o Tatu??
está assim:

Por favor, me deixem em paz! Só vou sair daqui quando a Copa terminar!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

FICÇÃO - ELA ONDE SE ENCONTRA


A outra que fui ontem vive então num encadeamento de imagens densas que as mãos soltas procuram reter, matéria a deslizar demasiado fluida, os cabelos roçando convulsos a fronha desfeita. Os pés lívidos, depois de terem vindo por sobre pedras limosas, águas-vivas, sargaços, e mais além descendo até o fundo de areia e pó de calcário, a rechaçar o que lhes perseguia, dão a ver agora uma pele rubra e indefesa a qualquer tentativa de assalto e aproximação. A blusa foi repuxada e suspensa até os seios. Uma espécie de almofada ou bicho de pelúcia se encontra firmemente seguro entre as pernas muito fletidas; os joelhos, bem próximos de tocar os lábios e a pequena mancha de baba, se mantêm imóveis.

Devo agora levantar-me e correr a um terapeuta para ser decifrada? Por que não acreditar que sou o ser que sou, nem mais nem menos bizarra que uma criatura abissal que engoliu ou foi engolida?

(texto: presente do Carlos Loria - imagem: internet) 

FICÇÃO.. OU REAL? "pérai", deixa eu pensar...

Penso, logo hesito... 
daí penso mais, por vezes desisto... 
em outras penso MUITOOOOO e daí insisto.
Noutras, corro o risco!
Mas se não penso, sai caca e só resta o riso!


 
(texto by Susan Blum / foto: meu amigo Altino que mandou, deve ser google.)

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

FICÇÃO: A Cigarra e a Formiga do século XXI – estão matando as cigarras!


Ano: 1800 – todos conhecem a fábula em que a cigarra morre no inverno, pois não trabalhou como a formiga, que foi precavida.


Ano: 1900 – a fábula sofre alterações, com as formigas se compadecendo da cigarra e dizendo que ela pode ganhar abrigo e comida SE cantar e dançar para elas.

Ano: 2000 – diz a lenda que a cigarra, muito rica por causa de suas músicas, foi para a Europa. E que ao passar pela casa da formiga, perguntando se ela queria algo de lá, a formiga lhe disse que procurasse La Fontaine e que o mandasse tomar no...

Ano: 2012 – a formiga aproveita as evoluções tecnológicas e copia as músicas da cigarra cantora, fotocopia os livros da cigarra escritora e grava os filmes (ou compra pirata) da cigarra diretora/atriz.

Quando a cigarra reclama, a formiga argumenta que o preço é muito caro, que a arte deve ser para todos, pois é um bem necessário. Que não é justo que se cobre tão caro por algo tão importante que todos deveriam ter acesso.

A cigarra de novo passa fome e frio. Pois se ela também achar que tem direito a estes bens: roupa do shopping caro da formiga, comida do supermercado da formiga e for até lá pegar de graça, pode ir presa! Mas a formiga, no quente de seu lar, vendo os filmes, ouvindo as músicas, lendo os livros, comendo com fartura, não se importa com a morte da cigarra!

Assim, logo, logo, no ano 2100 apenas cigarras que cantam mal, como a Cigarra Teló; as cigarras que escrevem mal, como a cigarra Agente Somos Essessão e as cigarras que fazem péssimos filmes..... sobreviverão. Pois as boas, ou desistiram há muito ou se juntaram em pequenos grupos fechados de bons artistas. Ou morreram todas!
 

Para acompanhar este texto, indico este post do blog de Adonai:



(basta clicar em cima dos títulos para abrir página para eles)

terça-feira, 13 de novembro de 2012

REAL - FICÇÃO - Sísifo

escrevi este texto em janeiro de 2012, mas só agora publico...



Sísifo


 Aguardava-o como sempre, sorriso serigrafado no rosto, olhos brilhantes, pupilas dilatadas, batidas coronárias acesas.


Chega cansado, corcunda, reclamando, olhar cabisbaixo, dizendo que quer desistir de tudo. Que não aguenta mais o emprego. Que não aguenta mais o ônibus lotado.


Com paciência hercúlea ela levanta o moral, o ânimo, lhe “carrega” até o banho. Faz massagens, prepara um jantar gostoso e presenteia com conversas amenas, leves, bem humoradas.


Ele se alivia, dorme direito, acorda com elevada vontade.


Porém, na noite seguinte, a história se repete, tal qual oroboros. A voz pastosa sanguinolenta dele aparece junto com todas as “ruindades” que ele carrega consigo.


Aos poucos, com MUITO trabalho, ela vai levantando-o, mostrando-lhe o cimo. Ou o puxando ou o empurrando até o cume.


 Ele vencedor, chega ao topo!


Feliz, confiante, sente o sol do sucesso iluminando sua vida. Olha ao redor e a vê. Velha, desgastada, com o mesmo sorriso encorajador, mas emoldurado pelas rugas da idade. De tanto carregá-lo, ela está cansada, machucada. Mas feliz por ele ter conseguido.


Ele a empurra lá do cimo. Fazendo-a despencar na depressão. Trocou-a por uma jovem linda.... que sempre o despreza e o rebaixa.


 

"Moral"; Quantas vezes passamos a vida a empurrar apenas bolas de esterco (vide abaixo)

 




Algunos escarabajos pasan toda su vida arrastrando una bola de estiércol con sus patas traseras. ¿Su vida entera es un lunes infinito?

sábado, 10 de novembro de 2012

REAL - reflexões sobre relações

Como o texto no facebook agradou... repasso para cá, corrigindo pequenas falhas:



ETHOS.
Sabe o porquê de relacionamentos não serem fáceis?
Primeiro que cada um teve uma vida inteira de experiências diferentes do outro. Cada um formou a sua própria conceituação de vida e sentimentos, de relações. Cada um passou por bons e/ou maus momentos diferentes.

Mas se realmente existe afinidade, amor, carinho, confiança, e principalmente RESPEITO e ADMIRAÇÃO; se os dois combinaram NUNCA mentir, NUNCA enganar e sempre CONVERSAR... se estas regras que foram estabalecidas se cumprem, há grandes chances do amor florescer cada vez mais.
CLARO que haverá dificuldades. Tanto pessoais quanto do casal. Mas nada que não possa ser superado com VONTADE.

Com DESEJO de se continuar junto.
Temos que ter consciência que mesmo com comunicação, o que um fala pode ser entendido de outra forma pelo outro. Afinal, há um filtro psicológico tanto na pessoa que recebe a mensagem quanto na que emite. Lembrem-se do ethos.
Um destinatário pode construir uma imagem que o locutor não desejou. Como disse Maingueneau: "Um professor que queira passar uma imagem de sério pode ser percebido como monótono; um político que queira suscitar a imagem de um indivíduo aberto e simpático pode ser percebido como um demagogo. Os fracassos em matéria de ethos são moeda corrente".
Ou seja, é a relação entre ethos e ideias, entre ser e dizer, que como resultado final é alvo da interpretação de quem recebe a mensagem.. se você "acha" que o outro não presta ou é interessante, é o SEU olhar. Não necessariamente é a pessoa! E só conhecemos realmente o outro quando não só ouvimos o que diz, mas vemos o que FAZ!
 Sim. Nos equivocamos diversas vezes, isso é humano, mas podemos (DEVEMOS) pedir desculpas. E rir de si mesmo também é bom.

Sei que não sou perfeita. E, se fosse, talvez seria bem chata! (mais do que já sou) hehe mas já aprendi a rir das minhas besteiras. Já aprendi que se amo alguém devo ter respeito e admiração acima de tudo. Aprendi a pedir desculpas quando estou errada. Estou aprendendo a perdoar os outros (por vezes é BEM difícil, mas cada um tem o que merece).
A vida é MUITO curta para se ficar de "mal" com as pessoas...
 Estou pensando em voltar a trabalhar como psicóloga. Fazer alguma reciclagem. Percebo que tem tantas pessoas precisando de ajuda. Pena que muitos acham que não precisam ouvir verdades...
Sim, sou frágil, tenho medos, angústias, inseguranças, raiva ... sou normal! Que bom, não? sou "normal" e ao mesmo tempo sou singular (única) como todos os seres. hehe

 
P.s. estas reflexões ressurgiram depois que eu li o artigo "a construção do Ethos no profissional de Publicidade", de Juliana Catarin Oliveira e Thaniely Vieira de Moraes. Grata, meninas! Inspirou-me!

domingo, 4 de novembro de 2012

REAL - Cabeça de Cachorro

Dizem que na "Descoberta" do Brasil, os homens brancos trocaram com os indígenas alguns bens (ricos) destes, por quinquilharias daqueles. 
A história que se segue é mera ficção, baseada neste fato grotesco.

Sou homem, sou branco, sou forte, sou inteligente e sou poderoso. Nada pode me deter no que desejo. Pego tudo o que quero, pois não existe Lei ou pessoa que possa me impedir.
Vivo no Hedonismo. Desejo = tenho.
Quando não quero mais, apenas largo. Como a maioria dos homens puramente hedonistas, que sempre acreditam que estão certos.
Vi a menina indígena um dia. Percebi, pela delicadeza tímida dos gestos, que ainda era virgem.
Meu membro logo se decidiu: a queria! Logo, a teria.
Comprei um bombom Sonho de Valsa.
Pouco depois meu membro valsava dentro daquele sonho de menina, que se contorcia de dor e desespero embaixo de mim.
FIM.

O quê?
chocou-se com a história?
então por que não denuncia o que está acontecendo?
Poste no facebook e vá compartilhando até chegar em alguém que não é tão impotente quanto nós!
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/75998-sexo-por-bombom.shtml
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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

FICÇÃO - Fantomas contra los vampiros multinacionales

Julio Cortázar!
Precisa falar algo?
Creio que não!
Mas trago hoje dois trechos do maravilhoso "Fantomas contra los vampiros multinacionales".

“¿Qué son los libros al lado de quienes los leen, Julio?

¿De qué nos sirven las bibliotecas enteritas si sólo les están dadas a unos pocos? También esto es una trampa para intelectuales. La pérdida de un solo libro nos agita más que el hambre en Etiopía, es lógico y comprensible y monstruoso al mismo tiempo. Y hasta Fantomas, que sólo es intelectual en sus ratos perdidos, cae en la trampa como acabamos de verlo.”)
 
 
" - Ahora - dijo Susan después de chupar en algo que desde luego no era un mate amargo -, comprenderás por qué te hable de la sentencia del tribunal. La aventura de Fantomas es una vez más el Gran Engaño que los expertos del sistema nos han puesto por delante como una cortina de humo, igualito que en su tiempo la Alianza para el Progreso, o la OEA, o la reforma en vez de la revolución, o los bancos de fomento y desarollo, no sé se hay uno o dieciocho, y las fundaciones dadoras de becas, y..."
 
 

domingo, 21 de outubro de 2012

FICÇÃO - Albert e Mileva (Veríssimo)

No livro Diálogos Impossíveis, Veríssimo cria uma possibilidade ficcional que me inspirou a novos diálogos improváveis. Vejam o texto do escritor:

Albert Einstein e sua mulher Mileva viveram separados durante cinco anos antes de se divorciarem em 1919. Foi Einstein que telefonou para Mileva para dizer que queria o divórcio.

- Albert. Que bom ouvir sua voz!

- Como vai você, Mileva?

- Bem, bem. E você vai muito bem, não é, Albert? Está famoso, é chamado de gênio...

- O pessoal exagera um pouco.

- E a nossa separação, Albert? Quanto tempo ainda vai durar?

- Era sobre isso que eu queria falar com você, Mile. Acho que nós devíamos nos divorciar.

- Divórcio, Albert? Depois de tudo que nós passamos juntos?

- Mileva...

- Lembra quando nos conhecemos na Polytechnische de Zurique? Nós dois estudando matemática e física?

- Lembro, Mile. Você era até melhor aluna do que eu.

- Lembra do nosso casamento em 1903?

- Claro.

- Lembra de 1905?

- Como esquecer? O ano miraculoso em que foram publicadas as quatro teses que revolucionaram a física e fizeram minha reputação. E você estava ao meu lado.

- E tudo isso não significa nada para você?

- Significa, Mile. Mas acabou. Acho que o divórcio vai ser melhor para nós dois.

- Para você, certamente.

- Mileva, não seja assim...

- Agora você vai poder se casar com a Elsa. Não é isso que você quer? Ou você pensa que eu não sabia do caso de vocês, mesmo quando ainda estávamos juntos? Elsa, Albert. A sua própria prima!

- Eu esperava que você fosse mais compreensiva, Mile.

- Eu sou compreensiva, Albert. Não sei se a Elsa vai ser tão compreensiva quanto eu fui.

- Ela me ama e me apoia.

Mas será que ela faria o sacrifício que eu fiz, para que o nosso casamento desse certo?

- Que sacrifício?

- Você esqueceu como eu fui compreensiva quando aceitei que você assinasse os quatro artigos revolucionários que eu escrevi sozinha, e levasse toda a glória? Eu não esqueci.

- Depois daqueles artigos, publiquei muitos outros igualmente importantes, Mile.

- Como aqueles, não, Albert. Aqueles fizeram história. Aqueles mudaram o modo de pensar sobre o Universo. A ciência nunca mais foi a mesma depois dos quatro artigos publicados em 1905. Dos meus quatro artigos.

- Eu nunca neguei a sua capacidade.

- Mas o mundo nunca ficou sabendo, não é, Albert? Talvez seja a hora de saber...

- Você está me chantageando, Mileva?

- Não. Só estou pensando em reparar uma injustiça.

- Você lembra por que eu quis assinar os artigos, em vez de você?

- Lembro. Você disse que ninguém acreditaria que eles tinham sido escritos por uma mulher. E eu, compreensiva, para não ameaçar nosso casamento, concordei.

- E você acha que hoje, em 1919, seria diferente de 1905, Mileva? Ninguém vai acreditar que você á a autora dos artigos. Vão dizer que é uma invenção vingativa de uma mulher despeitada. Para aceitarem que uma mulher possa ser um gênio da física como um homem é preciso que passe muito tempo ainda. Você esqueceu a importância do tempo na sua própria teoria, Mile?

- Eu sei, tudo é relativo, e o tempo mais do que tudo. Mas se houvesse um confronto entre nós dois para saber quem está falando a verdade, eu provaria a minha autoria. Você nunca entendeu muito bem as minhas teorias, não é, Albert?

- Mile, você faria isso? Só para evitar que eu casasse com a Elsa?

- Não, Albert. Fique com sua reputação, com seu gênio e com sua Elsa. Eu não faria isto. Eu continuo uma mulher compreensiva. Injustiçada, despeitada, mas compreensiva.

- Você me perdoa, Mile?

- Talvez com o tempo, Albert.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

FICÇÃO - O primeiro encontro (de Guilherme Moratto)

Este conto é de um aluno meu.


Nunca vou me esquecer. Era uma quarta-feira. Acordei cedo, me vestindo da melhor forma possível, afinal, a ocasião merecia. Tentei engolir alguma coisa, mais não consegui. Tomei apenas um bom gole de café, quente e forte. Sai às pressas, tinha um longo caminho para andar. O sol começava a nascer e a manhã estava linda, como eu havia pedido. Segui caminhando, perdendo-me em meus pensamentos. Quando me dei conta, estava quase chegando a meu destino. Virei à direita e entrei na pequena trilha, que apenas eu conhecia, e continuei andando, desviando dos galhos das árvores que cobriam o caminho. Não demorou muito para avistar o lugar onde passava a maioria das minhas tardes. Era como se fosse minha segunda casa. Meu verdadeiro lar.
Avancei e avistei minha linda campina. A mais linda das campinas de todo Vale Suede. Eu a havia batizado de campina das cores. Qualquer um que a visse entenderia o porquê deste nome. Havia flores de todos os tipos, tamanhos e cores. Era rodeada por um círculo completo e exato de árvores, que guardavam e protegiam minha linda campina. As cores se misturavam, transformando-se em um tom psicodélico. Estava tudo perfeito. Como eu imaginara. Tudo perfeito para nosso primeiro encontro. O dia em que veria, pela primeira vez, meu grande amor.
Estava nervoso, pensei em ver as horas, mas desisti. Deitei-me na grama, e esqueci tudo o que tinha neste irrelevante mundo material. Respirei calmamente e pedi para que o espírito da mãe natureza viesse a mim. Pouco a pouco, comecei a sentir o vento quente da primavera batendo sua brisa em meu corpo. Ouvi o lindo canto dos pássaros, que diziam que tudo iria dar certo. Senti o cheiro da terra, ainda úmida, e da grama onde estava deitado. Acalmei-me. Adormeci.
Não tive tempo de sonhar. Acordei sentindo sua presença. Levantei-me, olhei uma última vez para a campina, agradecendo por tudo que ela já havia me proporcionado. Quando me virei para ir a sua procura, vi seu corpo, lindo e forte, na entrada da campina. Meu coração disparou. Tudo aconteceu em segundos, mas foi claro. Instintivamente, corremos um para o outro, parando no meio da campina, com um lindo e longo abraço. Olhamos-nos, estávamos sem palavras. Abraçamos-nos novamente e recitei em seu ouvido, aos sussurros, aquele lindo poema que escrevi especialmente para ele. Era simples, mais dizia tudo: “E pela segunda vez ele bate. Desesperado, apaixonado por você.”. Nos demos as mãos e ficamos em silêncio. Não conseguíamos acreditar que aquilo estava acontecendo. Estávamos imóveis.
Puxei-o para mais perto de mim e como se o tempo estivesse parando, aproximei seu rosto do meu e nossos lábios se encontraram. Seu gosto era maravilhoso, seu toque, intenso. Ele levantou seus braços e envolveu-os em meu pescoço. Estávamos conectados por um amor que ninguém poderia destruir.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

FICÇÃO - Bota aqui o seu pezinho...

Meu amigo Carlos Loria escreveu este texto que reproduzo aqui:

 


Será que a professorinha também tem vergonha dos pés? Sim, creio que sim; tem vergonha de que fiquem olhando pra eles. No verão de Curitiba, calça umas sandálias abertas e sabe muito bem que a podofilia ainda não recebeu atenção acadêmica suficiente. Sabe que as pessoas ardem por pés. Quando está no ônibus olha de soslaio pra ver se algum tarado não está a lhe cobiçar os pezinhos. Na hora do banho, olha para baixo e fica pensando: “onde é que está a graça? Esses homens são uns bobos!” E então passa o lado mais áspero da esponja e uma grande lixa para deixá-los limpos e macios. Depois borrifa um pouquinho de talco e calça as pantufas. (Uma hora dessas poderão ser beijados...) a professorinha é uma mulher prevenida.
E, com um sorriso, sai despreocupada e quase descalça por ruas perigosas.

p.s. fiquei lembrando da música infantil, ai bota aqui o seu pezinho, bem juntinho com o meu. E depois, não vá dizer, que você se arrependeu... Não tinha percebido quão linda é essa música se for vista como um pedido de "namoro", ou seja, um relacionamento.
E depois, não vá dizer...
que você se arrependeu!

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

REAL - poesia para Susan

Sonhinhos de Susan Blum
 
Já bem cedinho, Susan Blum começa a se mexer
pois permaneceu imóvel durante toda a noite.
Então, sem mais, vai para bem longe de sua casinha
feita em alguma árvore da cidade.
Mas como sabe se orientar, acaba sempre voltando,
no finzinho da tarde.
Aí, cai num sono profundo,
com as penas sobrepostas feito um telhado
e oclusos pequenos olhos.
Feito isso, sua plumagem se desfaz em telhinhas soltas
a flutuar coloridas,
e Susan, ao amanhecer,
vai recolhendo uma a uma.
Carlos Loria (poeta  Salvador) 
(imagens da internet)

domingo, 7 de outubro de 2012

FICÇÃO - Doçura

A mãe de seu namorado liga para ela, desesperada. "Meu filho morreu, Delia!" soluços "Nosso amorzinho, o Mario, está morto!".
Delia lentamente desliga o telefone. Não demonstra nada em seu rosto ou corpo. Estática.
Há poucas horas havia enviado o último torpedo de amor para ele.
Relembra os últimos meses com ele. Sempre lhe tecendo surpresas. Uma delas era comprar vários chocolates que ele adorava e espalhar pela casa dele no domingo de noite, antes de sair do final de semana maravilhoso de amor, filmes e conversas agradáveis de madrugada, após o sexo. 
Durante a semana ficava então enviando um fio contínuo de torpedos para ele. 
Avisando: "abra a segunda porta do armário da cozinha".


 Ou então:  "Veja em cima do livro "A marca humana" em seu escritório". E assim passava a semana, ele maravilhado com a doçura dela, encantado em achar os bombons espalhados pela casa.
 "O doce-surpresa está dentro de nossa caixa de brinquedos eróticos"
Nas últimas semanas ele sempre dava uma desculpa qualquer para ela não dormir na casa dele nos fins de semana... mas ela sempre aceitava o atarefado namorado.
Um dia, em sua casa, abre o e-mail dele para ver se chegou notícias de um concurso que ambos entraram. Vê então uma mensagem de amor de uma mulher. Procura mais e vê mensagens dele para ela. Chamando-a de amor. Dizendo que tinha que resolver um problema com uma pessoa que ele não amava mais, mas que ainda respeitava.
Lentamente, Delia pega seu celular. Seus dedos entorpecidos enviam a mensagem que ela nunca esperava ter que mandar.


E depois de algumas horas ela recebe a notícia aguardada.
 
   (este conto é uma homenagem ao conto Circe, de Cortázar) Fotos: Susan Blum