novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

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convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

REAL - conversas de ônibus

Andar de ônibus sempre me rende boas histórias e causos.
Basta estar distraído com atenção (uma lição que sempre repasso aos meus alunos de criação literária).
Há anos, anoto o que escuto (não confio na minha memória).
O caso que contarei agora aconteceu há uns dois anos:
Duas senhoras matronas adiposas estavam conversando, era de manhã BEM cedo, aparentavam ser secretárias domésticas. Uma delas estava reclamando que não conseguia deixar de ser “graúda”. Ao que a colega replicou: “Você devia usar preto. Dizem que preto emagrece”. (caro leitor, eu sei que você vai pensar que é piada, mas não é. Juro!)
Ao que a corpulenta responde: “Mentira! Usei preto por dois meses e não emagreci nem um pouquinho!”
(a gente pensa que acaba por aqui, mas ainda há a resposta da amiga):
- é mesmo? Que coisa! Como mentem pra gente!


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Hoje (06/02) o dia foi muito mais profícuo. Pois várias histórias foram acontecendo, uma vez que “viajo” desde o tubo do Hospital Cajuru até o Terminal do Campo Comprido. Escolhi duas:
No meio do caminho, ali no Centro ele parou em um sinaleiro e minha janela (eu estava sentada enquanto outra centena estava em pé. Olhei para o lado e vi uma placa no tapume de construção: NÃO HÁ VAGAS. E embaixo, em letras menores, o mesmo aviso, mas em inglês. Pensei comigo: “é para os haitianos” (já comentei sobre os haitianos na crônica para Toda Letra - http://www.todaletra.com.br/2013/06/o-haiti-nao-e-aqui/)
Então me viro de novo pra dentro do ônibus, observando as pessoas lá na frente, quando escuto ao meu lado uma mãe perguntando: “Filha, o que está escrito ali?” E a filha, uma menina de uns 14 anos, dizendo: “Parece que é ‘paz no trabalho’, mas está escrito tudo errado.”
Fico curiosa e olho de novo para a placa. Realmente, havia mais uma frase escrita, menor, acima do grande NÃO HÁ VAGAS:
Pas du travail.
Sorrio. A leitura que a menina fez é legal, poética. Mas equivocada. Penso em explicar para elas que se trata do mesmo aviso, mas em francês. Porém, ao olhar para elas, vejo que estão “bem vestidas” e seguro minha boca a tempo. Prefiro ficar quieta e tento me lembrar do porquê. Mais de uma vez esclareci algo, dentro do ônibus, para pessoas como elas e fui tachada de exibicionista. Em vez de verem como uma oportunidade de aprendizagem, eles consideram a pessoa arrogante. Uma pena.
Pena que para não passar por convencida meu ego frágil escolha o silêncio.
Pena que a sociedade está assim.
Pena que preferi a mudez!


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Segunda situação que vale a pena ser contada. Mãe e filha descem na Rui Barbosa. Dois amigos ficam ao meu lado. Uma garota e um rapaz de uns 17 anos. Estão comentando sobre a escola, pois terminaram o ensino médio e estão falando da saudade dos colegas, sobre a escola. Então ela comenta que achou o ensino MUITO fraco, que era um absurdo passarem sempre todos, que não podia ser assim. Que ela mesma sabia que nunca estudava, que não aprendia nada. Argumentos que eram logo concordados pelo amigo, que complementava que deviam reprovar na escola! Depois passaram a falar de colegas que viam muito ou pouco. Relembrando do terceiro ano. Ele diz:
- a maioria das pessoas que eu conversava era do 3° ano.
E ela:
- eu também! A maioria não! Noventa e nove vírgula nove por cento!
Eles continuaram a conversa, animados. Mas eu não consegui mais seguir.

E desisti de ouvir mais conversas por hoje. Peguei o livro da bolsa e mergulhei nas letrinhas.

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