Não tem como escrever uma crônica hoje em dia deixando de
falar no assunto mais importante da história do Brasil (dos últimos anos). O ano
de 2013 fará páginas em futuros livros de história com fotos e textos que, apenas posso supor, hoje.
Nasci nos anos sessenta. Sou filhote da ditadura. Cresci
escutando o famoso: “os russos comem criancinhas” (não entendendo isso direito,
apenas os associava ao lobo mau de Chapeuzinho Vermelho).
(foto: Diogo Santos)
Passei a adolescência escutando que “brasileiro engole tudo”
“Brasileiro é cordeirinho” “Brasileiro aceita tudo” “Brasileiro não faz nada
para mudar a situação”.
Escuto as pessoas falando dos outros povos, como Grécia,
Espanha, Turquia, que – estes sim – são politizados, são conscientes e
reclamam. Vão para as ruas!
Sinceramente? Eu não achava que a geração coca-cola e
facebook fosse se mobilizar. Sei que tem vários que ainda ficam no facebook.
Apoiando ou criticando, mas muitos estão lá. Na rua, sob chuva de balas de
borracha e na pontaria de spray de pimenta.
(Há no FB dicas para se
proteger em manifestações)
Agora escuto críticas contrárias: “mas este povo é
baderneiro mesmo”, “aposto que são fantoches de outro grupo político que os
está comandando”. “Mas que absurdo! Tudo isso por centavos!”
Não! Não é por centavos. Os centavos foram apenas a gota
d’água de anos de corrupção, da colocação do Renan Calheiros na cúpula, do
Feliciano nos Direitos Humanos, do PEC 37, da Lei do Nascituro, dos ataques
homofóbicos ou racistas, dos estupros e assassinatos das mulheres, de um Carli
que mata dois rapazes por dirigir bêbado e continua solto, por várias outras violências
e PRINCIPALMENTE por uma saúde e educação mais que sucateada.
Escuto pessoas dizendo que há algum grupo político por trás.
Que deve ser os próprios corruptos querendo confundir a população. Que isso
tudo é orquestrado. Que não é o POVO se unindo.
Por favor, não tirem este prazer mínimo do povo que está sim
se aproveitando das redes sociais (como fizemos quando Ratinho era o favorito
aqui em Curitiba e conseguimos reverter), mas que está se revelando, sem
partidos. O que posso dizer (apenas minha opinião) é que estamos sim
aproveitando, por exemplo, os Anonymus.
Escuto as pessoas dizendo: “este grupo deve ser da
bandidagem, se usam máscaras”. Incrível! Há uma propaganda que diz que nem
todos que usam máscaras são bandidos. Que super-heróis também usam máscaras.
Mas no caso da “realidade”, logo são tachados de bandidos.
No facebook achei um texto que infelizmente não encontrei mais
devido à imensidão de comentários e postagens. Mas era de um ativista do grupo
que pedia que os colegas conversassem com as irmãs, namoradas e esposas para
que estas ficassem em casa, apoiando de forma virtual, pois os policiais
estavam batendo em todos. Dizia que ver policial batendo em “marmanjo” não doía
tanto nele, mas batendo nelas sim. Pedia desculpas para elas, dizendo que NÃO
estava as chamando de sexo frágil, mas que nestas horas a violência era muita e
que deviam se cuidar. Convocava os colegas com a frase “verás que um filho teu
não foge à luta!”
Pergunto: onde está o homem violento aqui? Eles pedem o
tempo todo a não-violência!
Tem um texto da Marina Colasanti – “Eu sei, mas não devia”
que fala da inércia. Desse “permanecer em zonas de conforto” (por mais que
sejam desconfortáveis).
Pois bem. O brasileiro cansou. O gigante adormecido
despertou. E, aos que estão criticando, pergunto:
O que devemos fazer então? Se não querem que saiamos para as
ruas?
Abaixo-assinados? Fizeram vários. Nada aconteceu.
Passeatas só com gritos? Fizemos várias! Nada aconteceu
(sequer na mídia sai).
Movimentos “passivos” de subversão como colar cartazes com
os pedidos? Um exemplo: no blog de Adonai ele pediu que os alunos colassem
cartazes pelas faculdades federais. Apenas eram retirados. http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2012/10/querem-ver-uma-foto.html
Não, pessoal! É de gota em gota que se extravasa. É de ver
todos os dias gente morrendo nos hospitais por péssimo atendimento. É de ver
professores sendo agredidos por alunos nas escolas, ou com péssimo ensino
(professores que mal sabem escrever o português).
Pergunto de novo: isso tudo é orquestrado por alguém? Por
quem?
Por favor! É o POVO, gente. Pessoas como eu e você. Nós somos o povo!
(foto retirada de http://www.policymic.com/articles/48717/13-shocking-photos-of-brazilian-military-police-brutalizing-protesters-in-s-o-paulo)
Tem alguns baderneiros que se infiltram? CLARO que tem.
Sempre teve isso. Afirmo de novo: NÃO sou a favor da violência. Sou pacifista
por natureza.
Mas... pergunto:
O que devemos fazer para chamar a atenção sobre a ENORME
insatisfação da população que está cansada da falta de respeito?
O QUE DEVEMOS
FAZER?
Não esqueçam que há outros países apoiando o Brasil.
Para fechar, já que falei de literatura, falo também da
música. Já que “caminhando e cantando e seguindo a canção” fez parte de minha
vida. Há uma música que acompanha a “brincadeira” de V de Vinagre. VINAGRE (cliquem na palavra que abre página para a música)
"O preço da liberdade é a eterna vigilância"
ResponderExcluirFrase dura, não? Mas realidade.
ExcluirSusan, estou torcendo para que isto não seja fogo de palha, e realmente tenhamos acordado para o fato de este país pertence igualitariamente -- pelo menos assim deveria ser -- a cada um dos quase 200 milhões de cidadãos nativos ou não.
ResponderExcluirTambém estou torcendo, Ismar! Também estou torcendo.
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