TECENDO as letras
Texto, segundo Barthes em seu O prazer do texto,
“quer dizer Tecido; mas, enquanto até aqui esse tecido foi sempre tomado por um produto, por um véu todo acabado, por trás do qual se mantém, mais ou menos oculto, o sentido (a verdade), nós acentuamos agora, no tecido, a ideia gerativa de que o texto se faz, se trabalha através
de um entrelaçamento perpétuo; perdido neste tecido
– nessa textura – o sujeito se desfaz nele, qual uma aranha que se dissolvesse ela mesma nas secreções construtivas
de sua teia” (Barthes, 2004, p. 74/75). As minhas tecituras começaram cedo, com o Apólogo de Machado de Assis, passando pelos galos tecendo a manhã de João Cabral, costurando os botões em greve da Rita Apoena, alinhavando a moça tecelã de Marina ou Penélope de Dalton. Enfim,
são tantos fios inspirados por Aracne, que fica difícil escolher algum para o meu texto. Gosto das histórias sobre as parcas que posso ver como metáfora da escrita: criação, desenvolvimento/destino e a “morte” do MEU texto
para uma ressurreição no olhar do leitor que passa a ser novo dono do texto, tecendo com sua bagagem pessoal. Ou o fio
de Ariadne que vai nos conduzindo no labirinto
das diversas leituras/caminhos.
Ai daquele que “fura” o dedo ao manusear o tear e acaba adormecendo na leitura. Perderá toda possibilidade de boas leituras enquanto não tiver o “beijo” de algum mediador
ou contador de histórias que o desperte para o ler. São muitos fios, muitas agulhas, muitos tecidos a serem desvendados. Um verdadeiro mistério. O sétimo mistério de Osman Lins. Sim, homens também “costuram”.
Veja Dalton Trevisan, Julio Cortázar, Machado de Assis
e Osman Lins, entre vários outros.
A costura sempre esteve afinada com a literatura. Pegar
a linha do enredo, perceber a trama do discurso, perceber
os fios correndo na folha, entrecruzando-se, produzindo
um outro discurso que se emaranha em outros fios, costurando os pensamentos e sentimentos. De ponto
em ponto vai-se aumentando o conto. Um verdadeiro mundo/patchwork de informações.
O escritor não quer vender um texto/tecido, mas sim
mostrar que também o leitor tece.
Mas… onde eu estava mesmo? Perdi o fio da meada…
(texto originalmente publicado em http://www.todaletra.com.br/2013/03/coluna-da-susan-1-tecendo-as-letras/)
Nenhum comentário:
Postar um comentário