novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

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convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

terça-feira, 16 de julho de 2024

Receita de adormecer a dor ou Receita de acordar a poesia

                                                                                    para a poeta Roseana Murray


Rasgo. Cada grão de areia que escorre no tempo me leva a imaginar o antes e o depois. As ampolas do passado e do futuro. Por ali a dor passa e o perdão nasce, em uma receita de olhar para tudo e todos. Uma pequena chave que abre os labirintos da incerteza, do medo e da dúvida. Abrindo o coração para a reconstrução.

Ontem. Mistérios e silêncios que se equilibram na borda de um poema, buscando amores nas dores, abrindo janelas. Tem muita vida pelo caminho, passos incertos de seus sonhos. Tem muita escrita de carinho, remendada, costurada, bisonhos.

Semente. A dança ciranda no tempo de andar para trás, porta da roda da vida e da morte, redemoinho de água no meio do vento. Vento que apaga os trilhos do trem, que iluminam novos caminhos, passarinhos.

Encanto. As estrelas do futuro azul descobrem pétalas e espinhos, nuvens densas que assopram esperanças na alma germinando sereias, crianças e anõezinhos. Acordando palavras que descansavam no fundo do casulo da mariposa.

Acorda. No mundo encantado de Roseana, com firmamentos e labirintos, a criança se descobre no espelho, azul, dourado e vermelho. Todos convivem na cabana da criatividade, no temporal da ilha da Verdade.

Nome. Um pedaço de sol pinta amarelo no labirinto do céu, as três Marias cantam e dançam em roda, mostrando o perdão que apenas, a penas, quer escrever, pintar, desenhar e sorrir. Sua alma sabe encantar.

Assumir. Carregar nas mãos a montanha e o mar, ser barco sendo levado, mas também arrumar as pedras para não afundar. Ou brincar de equilibrar as pedras em uma arquitetura artística.

 

 

Morte. Tempestade e silêncio. Matar sentimentos ruins, deixar morrer a dor. Inventar presentes da vida, com braçadas de flores e pássaros loucos que desamarram os nós. Coisas inúteis que não servem para a poesia cheia de vida e luz.

Ultimato. Arrumar todas as gavetas internas, tirando o pólen guardado, usando as raízes como sinos de cores, criando possibilidades de surpresas do destino, amizades novas, novos passeios.

Receitas. Triturar, misturar, separar, cozinhar, preparar, macerar, bater, colocar no forno, trocar, inventar, escrever, pensar, descansar, dançar, sorrir, crescer, adicionar, espalhar, descansar... viver.

Receber. Navegar nos mistérios dos gatos, fazer um interminável bordado de palavras pequenas que cobrem todo o livro da vida. Com linhas, agulhas, bordando as neblinas com ajuda do vento. Tocar o outro.

Adivinhar. O que a floresta do futuro reserva em cada semente, um fogo que levanta a poeira mágica da amizade, encontrando unicórnios que pousam na menina dos olhos do fio do horizonte, espantando a tristeza para o lado oculto da Lua.

Yahoo! Venceu! O olhar em um longo e apertado abraço derrama as notas musicais na imensa caravela que agora flutua na paz azul do olhar da poeta.  

 

(poema inspirado principalmente no livro Receitas de Olhar, da poeta.)





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