Teu filho tem três filhos, se é que me entende. E você é uma avó de meia-idade, dessas que espanta o espião de ouvido na porta: “Caramba, você já é avó?”.
Um primeiro filho do teu filho foi parido na academia (não a de ginástica). A Universidade te deu Cortázar e toda essa turma inteligentona do mesmo calibre. E você deu ao teu filho um texto cem por cento pressuposto, desfigurado em preciso ensaio sobre o que há de potente nas letras. Um erudito, curto e seco, só derrubável com três tiros 9mm. Sempre no alto da prateleira. Ou o leitor come mais feijão para crescer e alcançá-lo ou então que junte um punhado de pregos, uns sarrafos e construa uma banqueta firme, a chegar ao pico da estante.
Outro neto é o sarrista, estudiosozinho safado, que pensou que com essa fala mansa ninguém o sacaria. Discreto, dá deixas, poças d’águas rasas. Tem vida própria, mas nunca permite que ela siga sozinha, com frio. É um texto que não se esquece dos amigos. Dos grandes e famosos amigos, sempre com eles a conversar, mesmo que rapidinho.
O terceiro vive sozinho, no mundo da lua, mas nem por isso menos interessante. Pérfido cochichador, escuta a minha fofoca na padaria da esquina e nela põe algo de esquisito, de sem sentido. E me conta outra vez, deliciado por ver minha própria confissão me causar hesitação. Canalha do papo fantástico. Sujeito divertido.
A família é grande, bem mais musculosa que o clã nanico de formigas com paletó de lapela de seda, se é que me entende. Vó.
(Fernando Buzzá Machado)
Obrigada Fernando!
saiba que o "clã nanico de formigas com paletó de lapela de seda" vai me acompanhar - junto com muitos outros personagens - para o resto de minha vida...
p.s. nesta foto aparecem dois ótimos escritores: Fernando e Jean. Atrás, por coincidência, a sigla: Grandes Vencedores heheh - brincando, Guido Viaro.
Que bela leitura dos meus contos. Que bela distinção que o Fernando faz. Adorei. Relendo, lembrei de tanta coisa boa. Obrigada, amigo, por tudo!
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