Ouvidos à espreita
Nos ônibus a gente escuta de tudo... mas de tudo mesmo!!!
E não tem como escapar de ficar ouvindo, pois às vezes a pessoa fala tão alto que até lá na frente do biarticulado o motorista deve escutar essa passageira do fundão.
Ela, no celular:
- pois é. Você não soube da última?
(...)
- Pois é... o Kiko morreu.
(...)
- Pois é. Estão todos bem tristes. Mas quem mais está sentindo são as crianças.
"nesta altura alguns no ônibus imaginam que quem morreu é o pai das crianças"
- Não! Foi atropelado! Na frente de casa!
(...)
- Pois é. A Dona Vera viu tudo! O carro veio e passou por cima!
"alguns se entreolham, penalizados"
- Ele era tão novo! Tinha só cinco anos.
"a comoção fica maior dentro do ônibus! Uma criança!"
- Não. O carro nem parou!
(...)
"a comoção vira indignação"
- Pois é. E era um carro da polícia. Deviam estar em uma emergência. Nem parou!
(...)
"a indignação aumenta. Burburinhos ... pessoas começam a comentar casos sobre a polícia que é bruta!"
- Pois é. Ela até gritou. Mas eles nem deram bola. Ou não ouviram ou fizeram de conta que não viram.
(...)
"o pessoal dentro do ônibus está tão indignado que se tivesse algum policial ali, sofreria um linchamento simbólico"
- Pois é. Uma baita de uma tristeza... as crianças não param de chorar! Mas a dona Vera resolveu a situação!
"novo silêncio para ouvir como a ' Dona Vera' resolveu a situação"
- Ah! Eles resolveram comprar outro poodle igual.
Me pegou de novo! Como no da Susan Sontag! Perfeito! aconselho a quem não leu o Susan Sontaeg, que procure aqui no blog. lindo como esse.
ResponderExcluirObrigada, anônimo. Por favor, nas próximas vezes, gostaria de saber seu nome. Um abraço.
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