novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

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convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

sábado, 6 de abril de 2013

FICÇÃO - Azinofobia

Uma das disciplinas que administro lá na U.P. é língua portuguesa. Sempre procuro adaptar a disciplina ao curso em que está inserida. Em Direito uso textos de literatura envolvendo leis, lógica, etc. (como Diante da Lei, de Kafka; Conde de Monte Cristo; etc). 
Para publicidade e propaganda procuro dar vários tipos de literatura (crônica, poesia, romances, contos) e trabalhar a criatividade na produção de texto. Assim, uma das possíveis tarefas
(mudo a cada ano), é o uso de coesão e coerência (que explico em aula anterior) em um texto que eles farão utilizando palavras mais desconhecidas como: eubage,  flatulência, amplexo, ósculo, rubicundo, fleumático, vítrice, misógino, etc.
Entre estas palavras eu incluo algumas fobias.
Muitas vezes esta tarefa é solicitada após leitura
do texto Defenestração, do Veríssimo.
Vejam que belo texto criativo (e com coesão e coerência)
surgiu (esta tarefa é feita em sala de aula, nos 60 minutos que
lhes restam). Solicitei permissão da aluna que me concedeu
a oportunidade de compartilhar com vocês (não esqueçam que
eu dava a lista de palavras e pedia que usassem apenas aquelas que eles NÃO conheciam o significado, também era tarefa que eles buscassem - por conta - o significado depois, em casa): 

"AZINOFOBIA"

Acreditava ser o menino mais corajoso do mundo. Comprou um dicionário de fobias - uma palavra por dia e foi se convencendo de que não tinha medos.

Dia 1 - "acluofobia - medo de seguir pistas (vem do inglês clue)". É claro que não tinha medo disso, adorava desvendar mistérios!

Dia 2 - "afefobia - aversão à interjeição 'aff', frequentemente utilizada na internet". Ele utilizava essa interjeição até oralmente, obviamente não a temia.

Dia 3 - "agorafobia - medo de frequentar praças (vem do grego ágora)". Essa, com certeza, ele não tinha. Gostava de fotografar praças.

Dia 4 - "amatofobia -  medo de amadores". Ele mesmo era um fotógrafo amador, como poderia temer a si próprio?

Dia 5 - "atiquifobia - medo do barulho dos ponteiros do relógio". Quê?  Quem tem medo do "tic-tac" do relógio?

Achou que tudo isso era uma perda de tempo e parou por aí. Nunca descobriu, entretanto, que tinha medo de temer. Temia qualquer tipo de fobia - de A a Z. Viveu corajosamente e morreu sem saber: tinha AZinofobia.
  
Lissa Wan.

6 comentários:

  1. Excelente o texto da sua aluna Susan, muito bom o senso de humor tambem.

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    1. Olha, para fazer algo em cima da hora, é difícil ter textos tão bons. Teve vários bons, ou seja, alguns alunos conseguem criatividade e cumprir a tarefa com boa escrita. Mas esta achei MUITO boa!

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  2. Susan <3
    Que honra! Nem sei o que dizer...
    É engraçado pensar que eu esperava que não tivéssemos que escrever nada naquele dia, pois não estava "no clima". Relendo o que escrevi, confesso que me surpreendi... rs!
    Uma curiosidade: esse medo de todos os medos e fobias realmente existe! Chama-se PANTOFOBIA e, em seu estágio máximo, induz ao suicídio biológico. Que loucura!!!
    Obrigada pela alegria que você me proporcionou depois da conversa de quinta-feira (depois da aula) e por colocar meu texto no seu blog. Assim dá até vontade de escrever mais! Hahaha :)
    Beijos no seu coração.

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    1. Lissa. Compreendo perfeitamente seu receio de uma tarefa imposta em cima da hora. Todos temos. Mas você se saiu MUITO bem.
      Eu sabia da pantofobia. Mas foi bom vc ter colocado aqui.
      Sobre as conversas depois das aulas: são sempre as melhores!

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  3. André Tiago da Silva29 de abril de 2013 às 17:34

    Susan, criando pequenos escritores desde que se conhece por professora! Parabéns Lissa! ;)

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    1. Quem me dera, André... apenas encontro os escritores.. eles já estão formados!

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