Um
pedacinho incrustado entre os dentes: um resmungo que queria sair aos 15 anos.
Uma unha
encravada no pé direito, uma vontade de viajar que ficou presa.
No
esqueleto da coluna, uma envergadura que não quebra: o pai paralítico.
No olho esquerdo
um cisco teimoso, um choro engolido aos cinco anos.
O mijo que
não existe mais foi o medo do olhar do pai.
Uma
saudade escondida no canto esquerdo inferior do coração, o homem que ainda amo.
Um nozinho
na garganta por não ter feito algumas coisas que desejava.
Uma
cosquinha na ponta dos dedos, aquela história só pensada e esquecida.
Uma
caspinha de ressentimento, o grande amigo da faculdade.
Um
cheiro de infância que está solta no balão do pulmão.
A
lágrima de alegria que se infiltrou naquela ruga mais seca.
Aquele
filme e aquele livro que não li ou assisti, que abriram os espaços entre os
neurônios.
Os
pensamentos esquisitos e os outros (“antenados”) que se perderam atrás das caixas
de memórias.
Os
objetos dentro das caixas de lembranças, que foram se amontoando, esperando uma
limpeza nunca feita.
Os sons
de todas as músicas ouvidas, cantadas, dançadas e embaladas em outros corpos e
que ficaram pirogravadas na bigorna dos ouvidos.
As
poeiras dos desejos não satisfeitos ( e dos satisfeitos) que tecem cortinas nas
meninas dos olhos.
Os
amores e desamores que fluem nos refluxos do estômago junto com as borboletas.
Os
passos dos medos e anseios que ecoam por dentro dos ossos.
Esta é a
alma do meu esqueleto. Sou eu.
E você?
Do que é feito?
(texto: Susan Blum. Imagem:
retirada da internet.)
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