novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

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convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

quarta-feira, 30 de abril de 2014

TODA LETRA - Esqueleto de alma


Um pedacinho incrustado entre os dentes: um resmungo que queria sair aos 15 anos.
Uma unha encravada no pé direito, uma vontade de viajar que ficou presa.
No esqueleto da coluna, uma envergadura que não quebra: o pai paralítico.
No olho esquerdo um cisco teimoso, um choro engolido aos cinco anos.
O mijo que não existe mais foi o medo do olhar do pai.
Uma saudade escondida no canto esquerdo inferior do coração, o homem que ainda amo.
Um nozinho na garganta por não ter feito algumas coisas que desejava.
Uma cosquinha na ponta dos dedos, aquela história só pensada e esquecida.
Uma caspinha de ressentimento, o grande amigo da faculdade.
Um cheiro de infância que está solta no balão do pulmão.
A lágrima de alegria que se infiltrou naquela ruga mais seca.
Aquele filme e aquele livro que não li ou assisti, que abriram os espaços entre os neurônios.
Os pensamentos esquisitos e os outros (“antenados”) que se perderam atrás das caixas de memórias.
Os objetos dentro das caixas de lembranças, que foram se amontoando, esperando uma limpeza nunca feita.
Os sons de todas as músicas ouvidas, cantadas, dançadas e embaladas em outros corpos e que ficaram pirogravadas na bigorna dos ouvidos.
As poeiras dos desejos não satisfeitos ( e dos satisfeitos) que tecem cortinas nas meninas dos olhos.
Os amores e desamores que fluem nos refluxos do estômago junto com as borboletas.
Os passos dos medos e anseios que ecoam por dentro dos ossos.
Esta é a alma do meu esqueleto. Sou eu.
E você? Do que é feito?

(texto: Susan Blum. Imagem: retirada da internet.)

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