Sacolas cheias de lã negra pendiam de suas mãos cheias de fios enrugados e dedos enosados.
Os jovens vizinhos quase não a viam sair de casa. Ela era quieta e soturna. Bom para eles que, recém-casados, viviam as tertúlias amorosas em todos os instantes possíveis.
Moradora do terceiro andar, eles nunca viam visitantes. A mocinha, já cansada das subidas ao segundo andar admirava a força de vontade da senhorinha que volta e meia subia com sacolas de lãs. Até pensava na possibilidade de - engravidando - pedir roupinhas de bebê.
A vida seguia seu labirinto normal, com altos e baixos, obstáculos e retornos.
Pequenas brigas do jovem casal logo eram resolvidas com enlaces amorosos tal qual duas aranhas na cama.
Teciam birras, para destecerem logo depois.
Pequenos nós de mágoas logo eram cortados com beijinhos e presentinhos.
Um dia um cheiro ruim começou a invadir o apartamento. A jovem insistia para que ele limpasse os encanamentos, os ralos, os banheiros. Mas o cheiro persistia.
Lançavam jatos de perfume antes de sair de casa. Acendiam incensos. Mas nada resolvia. Um dia foram atrás do cheiro e perceberam que vinha do apartamento da senhorinha. Bateram na porta, tocaram a campainha... e nada!
Depois de uma semana, resolveram chamar um chaveiro. Já que nunca a viam, pensaram que ela devia ter viajado e deixado algo estragado na casa. Iam limpar e depois avisar a senhorinha.
Ao abrir a porta o viram: enrugado, enegrecido, carcomido... pendia, nu, do ventilador de teto, tal qual fruta podre.
A única vestimenta: um cachecol de lã negra no pescoço.
Ariadne havia libertado seu Minotauro interior.
(Texto: Susan Blum. Imagem: internet)
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