Início de noite de sábado. Na frente da televisão, o pai e a
mãe – cada um no seu extremo do sofá, observam os filhos no tapete – cada um no
seu celular. A avó, instalada na poltrona dura e seca, está atenta à novela.
Seus olhinhos não perdiam a história de amor dos protagonistas. Inclina-se para
agarrar com os ouvidos o enredo amoroso que só existe naquela tela.
De repente seus ouvidos captam outra narrativa, palavras vão
se encaixando no quebra-cabeça familiar. Praia. Domingo. Viagem. Na rapidez que
sua idade permite, volta-se para esta nova história que está se formando na sua
frente. Os sorrisos das crianças, os olhos brilhantes do casal, a correria para
separar tudo de que vão precisar para o domingo na praia: toalhas, protetores,
roupas de banho, chinelos, bola, água, biscoitos... tudo devidamente ensacado
em sacolas plásticas. A velha resolve abrir a boca para perguntar que horas
sairiam, mas as portas dos quartos estão se fechando, pois desejam sair cedo e
foram todos dormir. A velha ficou na sala, com a TV desligada por eles, e a luz
acesa lhe fazendo companhia.
Ela, extasiada com este passeio inesperado, tenta lembrar
qual foi a última vez que foi passear na praia. Levanta-se da poltrona tal qual
tartaruga, feliz pela possibilidade. Vai arrumar um vestidinho leve, suas
chinelas, separa os remédios – companheiros constantes – o protetor solar (tão
necessário depois de um câncer de pele), sua toalha puída. Faz sua toilete e
vai deitar para acordar cedo.
Na ansiedade com o passeio tão desejado acaba não
conseguindo dormir. São recordações de quando levava os filhos para a praia,
sua filha (agora mãe de seus netos) vivia pedindo para ir à praia, para pular
ondas (quantas vezes ficava com ela no mar), para comer milho verde (a boca da
velha se enche de água com desejos), para passear à beira-mar. Quando vê, já
são cinco horas da manhã, resolve se arrumar, pois não quer atrasar ninguém
para o passeio. Não quer atrapalhar a família. Mais um tempo para conseguir
colocar sua roupa, calçar os sapatos, se ajeitar. Pronto. Está prontinha. Então
resolve preparar o café da manhã para todos, para que possam sair cedo. Está terminando
de arrumar a mesa com os pães, leite, café, tudo fresquinho; quando escuta o
som de um despertador e a mulher gritando que está tarde. Acordando todos com
pressa. Vão levantando e se arrumando. Olham para a mesa posta e se alimentam
rapidamente. Já levando para o carro
todas as coisas. A velha observa tudo com um sorriso no rosto. Pega seu
chapeuzinho de palha e vai em direção ao carro com sua sacolinha de
supermercado. Todos estão no carro e dão partida. Ela ainda fala da porta.
_Me esperem!
E eles, surpresos ao perceber as intenções da velha:
- Não, vó. Você vai atrasar a gente. Tchau.
p.s. Infelizmente não encontrei mais o conto. Lembro de ter lido quando adolescente e que marcou demais a minha existência. Então, como não encontro, resolvi escrever do meu jeito. Caso achem a autoria, ou o autor descubra, peço desculpas e que me informe (para que eu possa linkar com o conto original). [Texto: Susan Blum (recordações de uma leitura). Imagens: internet]
Bravos!
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