vozes a mais
vozes a menos
a máquina em nós que gera provérbios
é a mesma que faz poemas,
somas com vida própria
que podem mais que podemos
(Paulo Leminski)
Lá vem ele navegando pelos mares virtuais, saqueando ideias alheias, control C control V e mais uma ideia é pirateada por este navegador inescrupuloso que não se interessa em saber se foi fácil ou difícil concatenar ideias, ligar pontos, associar teorias... o que lhe interessa é ir bem na nota. Ficar bem com o professor.
Ou seja, fica apenas no control C control V, formatando uma colcha de patchwork mas sem saber se as costuras estão bem feitas, ou se há combinação dos “pedaços” recolhidos e costurados.
Não tem a menor ideia de como foi difícil ao autor do texto costurar com linhas fortes de argumentações e com pontos firmes de conclusões.
Estou sendo metafórica demais?
Então vamos direto ao ponto. Quem foi, ou é, meu aluno sabe o quanto combato o plágio.
Quando encontro escritos plagiados dou zero, e comunico à coordenação. O aluno pode até não ser expulso da instituição, mas está “queimado” com os professores e dificilmente receberá recomendações.
Sempre digo aos alunos sobre as penalidades, por lei, do plágio (desde meses até um ano de cadeia e/ou multa). Sempre comento da dificuldade de se PENSAR e de escrever ideias inéditas, fazer associações com bases metodológicas, argumentativas e com pesquisa séria. Nem vou comentar sobre o enorme aumento de plágio em trabalhos universitários. Mas o pior é que a maioria dos alunos me diz que nunca foi falado para eles que isso era plágio - que usar fontes e não citá-las era um crime.
Eles reclamam que isso deveria ser ensinado desde cedo nas escolas. E fiquei me questionando o quanto isso era real. Lembrei que quando criança (lá pelos idos de 74 / 76) as professoras pediam que pesquisássemos sobre algum assunto (por exemplo: Descoberta do Brasil). E que eu pegava as folhas de papel almaço, pegava o número certo da Enciclopédia (naquela época os vendedores passavam de casa em casa convencendo os pais de que ter uma enciclopédia em casa era importantíssimo para a cultura dos filhos), copiava (ipsis literis) o que estava escrito. Isso seria plágio... mas... lembro que sempre colocava ao final do trabalho de onde foi retirado o texto (ou seja, citação!!).
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Está certo que somos aquilo que lemos, vimos, experimentamos, ouvimos e absorvemos de outras culturas e outras artes. Quando trabalho intertextualidade e hipertextos com meus alunos de PP comento isso. Que precisamos de um repertório ou bagagem cultural (vide artigos de Iser e Jauss), e que somos parte de uma teia. Ou seja, fazemos relações e associações como um mosaico de conhecimentos e artefatos. Basta pensarmos também em Bakhtin com seu dialogismo e sua polifonia (não entrarei em detalhes aqui, mas é interessante para se pensar os diferentes diálogos que promovemos com passado e presente, ou seja, somos intermediadores de textos e imagens).Como diz Kristeva (que utilizo em minhas aulas), o hipertexto tem sempre uma intertextualidade. É dela a célebre frase que inaugura a primeira definição de intertextualidade: “todo texto se constrói como um mosaico de citações, todo texto é a absorção e transformação de um outro texto” (1969, p. 85).
Mas isso não quer dizer que devemos “copiar” sem citar! Ao contrário!
Está em discussão, atualmente, um assunto relacionado a isso: a jovem escritora alemã que está fazendo sucesso. Essa “escritora” alemã (coloco o termo entre aspas porque, na minha opinião, ela é apena ladra), já me chamou a atenção pelo próprio título do livro – Axolotl Roadkill – imediatamente me lembrei de Julio Cortázar com seu conto Axolote. Esta menina atropelou vários escritores com seu livro, pois insere trechos e frases de vários autores e blogueiros sem citar! Não estou criticando o fato dela ter usado outras obras, pois eu também utilizei alguns termos ou frases de outros escritores, pensadores e filósofos em meu livro de contos, mas os cito ao final dele.
Assim, devemos saber separar uso de abuso. Ter ideias não é fácil, desenvolver as ideias também não é... já roubar ideias é fácil (como tirar doce de criança) e deve ter seu “castigo”. É um absurdo que editoras permitam que esta “escritora” continue a vender seu livro. Assim como é um absurdo que “universitários” tenham preguiça de pesquisar, fazer associações, buscar argumentações com proposições SUAS, com conclusões próprias.
Este post acabou muito extenso e pouco profundo. Mas o assunto daria praticamente uma tese. Fica apenas como reflexão sobre autoria, plágio e pesquisa.
Também aconselho a buscarem o link - sobre Como Nossa Educação Contribui para o Crime Organizado, de Adonai Sant´Anna
E a música Em Berço Esplêndido - Adonai Sant'Anna II
(basta clicar em cima dos nomes que você será direcionado para o blog e youtube)
Ou seja, naveguem meus caros alunos, mas naveguem sabendo pesquisar, refletir, pensar e PRODUZIR. E não sendo meros piratas da cara de pau.
Para quem tiver maior interesse, basta procurar
O dialogismo de Bakhtin (1997), ou melhor, as relações dialógicas apontadas por ele no estudo "Estética da criação verbal". Essas relações partem da premissa de que "todas as palavras e formas, que povoam a linguagem são vozes sociais e históricas que lhe dão determinadas significações concretas e que se organizam no romance em um sistema harmonioso [...]".
KRISTEVA, Júlia. Introdução à Seminálise. São Paulo: Debates, 1969.
(todas as imagens foram retiradas da internet)
P.s. na faculdade, sempre via cartazes ou folders de pessoas que "corrigiam" trabalhos acadêmicos. Como sabia que eram, na verdade, pessoas que eram pagas para FAZER os trabalhos, eu sempre arrancava tudo dos editais e jogava no lixo! NÃO ACEITE ISSO! Denuncie!
Para quem se interessou sobre o tema, achei algo que pode ser útil... contra plágios: http://copiaisso.blogspot.com/2009/08/como-proteger-os-feeds-de-plagiadores.html
ResponderExcluirCIRCE COMENTOU
ResponderExcluirGostei muito. Do que vc escreveu e também da Kristeva. Sabe? Eu era especialista em descobrir "colchas de retalho" instantaneamente, quando fazia muita correção de Monografias. Mesmo bem costuradas, é preciso ser "artista " de verdade para que não se perceba a falta de harmonia na composição do desenho. Fica uma coisa dura e sem alma. As vezes tinha raiva, mas muitas vezes tinha pena! Mas já vi um aluno fazer uma colcha completa dentro da legalidade - citando TODAS AS FONTES e, por incrível que pareça, conseguiu dar seu recado, pois estava tudo muito bem concatenado. Primeiro fiquei intrigada e depois achei que seu empenho fora tão grande em produzir algo bom sem saber expressá-lo com suas próprias palavras, que, ao entender bem os trechos escolhidos para cópia, deixou o todo harmônico e sem ar de falsidade. Além da correta citação de todas as fontes. Esse sim, além de tudo é um artista - e honesto! CIRCE COMENTOU
Cris Otoya comenta:
ResponderExcluirSusan gostei da sua lógica, claro que apenas roubar não é bom, nem legal, mas as ciatações fazem parte dos trabalhos acadêmicos e é isso que os estudantes precisam entender.
P.S. também não sei como por URL
Cris Otoya
Obrigada Circe. Obrigada Cris. As participações dos leitores é muito importante! Apareçam sempre. Vou tentar postar algo de duas em duas semanas!
ResponderExcluirAdorei seu texto professora. Espero produzir muitas idéias. Um abraço!
ResponderExcluirMahara, obrigada pela visita! Também espero que você produza muitas ideias!
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