novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

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convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

REAL - Quem sou eu?

Quando iniciamos o ano, eu - nova na escola - recebi a tarefa, junto com outras meninas (na época não se misturavam meninos com meninas), de escrever: "Quem sou eu?"
Na hora fiquei atônita. Mas como vou escrever quem sou eu?
Como vi que todas iniciaram a escrita rapidamente, fiquei um pouco perdida. Pensei: vou escrever o que me vier na telha!
Mão na massa! E foi mais ou menos isso que escrevi:
"Quem sou eu?" 
Uma simples pergunta que é muito difícil de responder. Indagação que existe desde os primórdios. Todas as pessoas querem saber quem são de verdade. Mas como vou saber quem eu sou? Teria que me ver de forma profunda, e não sei realmente quem sou eu. Alguém saberia?...
(não lembro mais o que escrevi)
Depois  de certo tempo, quando a professora viu que a maioria terminou, disse que estava bom e passou a palavra para a primeira da fila (estávamos em círculo). A minha sorte é que ela estava praticamente do lado oposto de onde eu estava.
Por que, a sorte?
Simples: ela leu... "Quem sou eu: meu nome é Angela, tenho xx anos, etc etc etc".
E eu pensei: "nossa! como sou burra! Era isso que a professora queria!"
E rapidamente iniciei minha "redação": Meu nome é Susan, tenho 13 anos, moro com meu pai, minha mãe, dois irmãos e uma irmã, gosto de azul, de ler e ...
Mas esse evento nunca me saiu da cabeça.
Anos depois percebi que na verdade eu não era burra. Mas sim que tinha um pensamento diferente do usual.
Dois anos depois escrevi uma redação que a professora elogiou e pediu que lhe desse uma cópia. Os amigos de meu pai também pediram cópias. Infelizmente minha mãe não guardou a redação, mas lembro que escrevi algo do tipo: meu futuro.  
Nunca achei que tivesse algo de excepcional nisso tudo. Mas confesso que hoje, olhando para o passado, compreendo um pouco mais do assombro das pessoas. E acho que se tivesse tido coragem de ter lido o "Quem sou eu" teria surpreendido a professora e não teria me sentido burra.
E, no fim das contas... até hoje não consigo responder esta simples pergunta.  
Pois ainda me sinto uma incógnita!

3 comentários:

  1. Susan, e pensamento da Susan, acho que o interessante é justamente voce ser uma incognita assim não a necessidade de ser uma Susan definida, mas gosto de quando você é o risco da íris, a ponta da asa da borboleta, o canto da folha em branco, o pó voando ao prazer do vento, o grito entalado na garganta, o desejo apimentado, a verdade na ponta da língua, um fragmento de amor, uma bagunça organizada, uma letra perdida no mundo, um azul intenso, a tentativa de ética, a paz solitária, o grão de tesão, a felina sapeca, o gosto de quero-mais, enfim é a Susan.

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  2. Serzinho tão profundo e pensante desde sempre. Onde estava que não nos encontrávamos?

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    1. Serzinho complicado desde sempre, vc quer dizer... onde estava? não sei, Helen. Mas sei que vc está dentro de mim sempre. Uma âncora para meu barco desgovernado. Sempre amei e sempre amarei vc. Obrigada, irmãzinha, por existir!

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