novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

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convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

REAL - um caso de autoestima.

Ela chegou através da nutricionista do posto de saúde.
Era para ser um caso de obesidade, mas claro que a teia de relações não permite um atendimento com visão fechada!
Fiquei pensando em como poderia ajudar e lembrei das aulas de psicomotricidade.
Desenhar o próprio corpo em um folha de bobina comprida, tentando imaginar-se deitada ali.
Depois fazer a paciente se deitar sobre o desenho e fazer o contorno do corpo com giz de cera de outra cor. Finalmente discutir sobre como ela se via e como realmente era.
Primeiro ponto a ser observado: ela fez um contorno bem mais "gordo" do que ela realmente era. Ela se espantou com isso.
Segundo ponto a ser considerado: em todo o desenho o que mais sobressaia eram os ombros muito mais largos que ela "se deu".
Pergunto a ela se faz alguma ideia de porquê se colocou com ombros tão largos.
Reflexão dela por uns minutos de silêncio que respeito (sempre respeitei muito mais o silêncio do que o mero matraquear).
Então, começam, aos poucos, a sair algumas lembranças e histórias dela. "Sabe, sempre namorei rapazes mais novos" "ou problemáticos". "Meu noivo era surdo". "Minha mãe nunca aceitou nenhum namorado meu". "Sempre tive problemas em casa com meus pais" "sempre tive que trabalhar para sustentar..." e assim vem, em uma enxurrada, várias histórias e recordações.
Por fim, aproveitando um momento de silêncio dela, olho para o desenho, que fixei na parede ao meu lado, retorno meu olhar para ela e digo: "sabe, você não precisa carregar tudo isso".
Ela desata a chorar, logo pego a caixa de lenços de papel da gaveta e empurro para ela, deixando que nova cachoeira se evapore.

Os próximos encontros foram muito mais fáceis. Ela emagreceu bastante. Ficou feliz. 
E, ao final da terapia (depois de meses), me segredou o que fez com o desenho que havia me pedido, ao fim daquela consulta: grudou-o na geladeira, para sempre lembrar porque comia tanto.
Parece que funcionou.
  (história real, parte de minha atuação como psicóloga 
em um Posto de Saúde de Curitiba - imagens: internet)
  

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