novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

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convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

domingo, 7 de abril de 2013

REAL - (reflexões) - comunicação truncada

O ser humano é o que tem, "aparentemente", o melhor sistema de linguagens do reino animal.
Mas apesar de sabermos ler, escrever, falar e desenhar... apesar da linguagem corporal e visual... 
apesar de todos os meios...
 ainda há falsas leituras e interpretações equivocadas que ocorrem de acordo com o desejo pessoal de cada um. Ainda somos tão centrados em nosso próprio umbigo que achamos que o outro pensa, sente e age como nós. E julgamos o outro através dessa bagagem de vida que temos.
Vamos para alguns pontos a serem percebidos, analisados e refletidos:
Um amigo meu postou a seguinte história, para basear a ideia de outra reflexão que fez.

Ele e Ela são casados. Ele, então, faz uma pergunta para Ela, em tom de determinação: "Posso ter uma amante, além de você?". Ela fica nervosa. Nunca havia sequer pensado nesta possibilidade. Hesita por alguns instantes. Mas, injuriada, Ela finalmente responde: "Não!". 
Agora, vejamos o que existe nas entrelinhas do primeiro ato desta pequena história real. Jamais podemos esquecer que o primeiro ato de qualquer arquitrama encerra informações vitais para o desenvolvimento do segundo e do terceiro atos. E quando as personagens são absolutamente lineares, basta prestar muita atenção no primeiro ato para sabermos com antecedência como a história se desenvolve e termina. Vejo inúmeros exemplos disso no cinema de má qualidade (como o filme Ilha do Medo, de Martin Scorsese) e na vida pessoal e profissional de indivíduos que conheço.
O simples fato de que Ele fez essa pergunta, já demonstra claramente que Ele não está satisfeito apenas com Ela. Portanto, é inevitável o envolvimento extra-conjugal. Ele realmente quer uma amante. Ela, por outro lado, não reagiu instantaneamente. Hesitou. E a hesitação é uma porta entreaberta. 
Ele consegue uma amante, a qual já cobiçava há algum tempo. Logo em seguida, Ele apresenta a desejada amante para a esposa. Silenciosamente, Ela aceita a nova realidade. Afinal, Ela é dependente financeira e emocional d'Ele. Ela é submissa.
Ele a traiu? Depende do ponto de vista. Do ponto de vista d'Ele, não houve traição alguma. Afinal, desde o início Ele sabia que Ela aceitaria a realidade de uma amante. Aquela hesitação era tudo o que Ele precisava saber. Não são palavras que definem o caráter de pessoas, mas ações. Além disso, Ela realmente aceitou a amante, apesar de jamais ter sido a mesma esposa amorosa de outrora. Do ponto de vista d'Ela, porém, a confusão em sua mente é grande demais para definir se houve traição. Afinal, traição não permite espaço para perdão. 

Primeiro ato "o simples fato de que Ele fez essa pergunta, já demonstra claramente que Ele não está satisfeito apenas com Ela. Portanto, é inevitável o envolvimento extra-conjugal. Ele realmente quer uma amante. Ela, por outro lado, não reagiu instantaneamente. Hesitou. E a hesitação é uma porta entreaberta."

Reflexão: temos que levar em consideração que ele poderia estar "testando" ou "brincando" com ela. Coisas bobas, sem dúvida, mas o ser humano tem uma tendência a testar ou jogar com o outro (ainda não entendo o porquê disso). Ela poderia ter hesitado por estar justamente pensando: ele está brincando? ele está me testando? E ele vê esta hesitação como uma resposta de porta entreaberta para o que ele realmente deseja: ter outra.
Em uma coisa concordo totalmente: se ele está fazendo esta pergunta de forma séria, COM CERTEZA não está satisfeito apenas com ela.
Mas aqui temos outra questão a ser pensada: NINGUÉM nos satisfaz plenamente. NÃO existe alguém que nos preencha TOTALMENTE. Por isso continuamos a ter amigos, interesses diferentes (sejam culturais, profissionais, hobby, etc) e preenchemos estes "vazios" com eles. Mas daí a ter que precisar de um amante, daí é diferente, pois indica insatisfação sexual (no meu ponto de vista). Coisa que (com uma BOA conversa) pode-se resolver. O problema é que (apesar de ter um ótimo sistema de linguagens - como falei no início) o ser humano não sabe se comunicar. Ou tem vergonha de falar sobre sexo com o próprio parceiro (a), ou não quer mostrar que está insatisfeito (o que acaba por matar de vez a relação). Não percebe que o remédio está à mão e adoece, mais ainda, a relação. Sinceridade é ESSENCIAL.
Outra palavra importante para se ver a personalidade desse "esposo": inevitável. Inevitável? Somos tão fracos assim a ponto de justificarmos as nossas ações com o fatal "inevitável"? (Querida, foi inevitável! Eu tinha que matar! Eu tinha que estuprar. Eu tinha que te trair, ela estava nua na minha cama. Ela se jogou em cima de mim). Estranho como a cultura machista ainda impera. A mulher pode (e deve) não ceder aos galanteios ou forçadas dos homens. Mas para o coitadinho do homem é muito difícil dizer não para uma mulher nua se insinuando. (e depois eles não gostam que as mulheres sejam chamadas do sexo forte. Mas se eles são tão fracos a este ponto... sexo frágil é  este homem que julga INEVITÁVEL trair).


Segundo ato: Ele consegue uma amante, a qual já cobiçava há algum tempo. Logo em seguida, Ele apresenta a desejada amante para a esposa. Silenciosamente, Ela aceita a nova realidade. Afinal, Ela é dependente financeira e emocional d'Ele. Ela é submissa."
  

Reflexão: Ahá. Revertemos a análise aqui. Ele JÁ cobiçava outra! Logo, apenas confirmamos o que refletimos acima: ele fez a pergunta apenas como forma de ter elementos para "culpar" a esposa por permitir que ele buscasse algo fora. E é tão covarde que não termina com ela. Tem muitos seres humanos assim, como não têm coragem de terminar uma relação vão fazendo diversas coisas que sabotam aos poucos o convívio. Fazem com que o "outro" termine, assim não se sentem culpados. E ainda podem sair zangados ou "tristes" na separação, dizendo que amava de verdade, que queria ter tentado de forma séria. No caso dessa história é pior ainda, pois detém o poder financeiro sobre a esposa. Nem vamos entrar na questão de dependência emocional (pois de um certo ponto de vista ele também é dependente dela, senão teria terminado com certeza. Mas ele não quer perder nenhuma das duas. Uma pessoa egoísta sem sombra de dúvida). Mas, há uma lição poderosa aqui para as mulheres: NÃO sejam submissas!

Terceiro ato: "Não são palavras que definem o caráter de pessoas, mas ações. Além disso, Ela realmente aceitou a amante, apesar de jamais ter sido a mesma esposa amorosa de outrora."

Reflexão: Vamos lá: sim, o caráter de alguém está na ação e não na palavra. Dizer que ama, que vai ser fiel, que será amoroso e cuidadoso pelo resto da vida é uma coisa. FAZER isso é o que prova o amor. Mas vejamos aqui que, de novo, aparece a "culpa" sendo jogada somente para uma pessoa: "apesar de jamais ter sido a mesma esposa amorosa de outrora"
Huumm, e ele? continua o amoroso de outrora? Continua abrindo a porta do carro como antes? Enviando torpedos carinhosos como antes? Fazendo surpresas como outrora?
A "culpa" de um relacionamento não dar certo (apesar de gostar do termo de que todo relacionamento deu certo por um tempo) nunca é só de um. Os dois tem parcelas de erros. Mas acredito que sempre há possibilidade de reacender a chama da paixão.

Quarto e último ato (para finalizar): "Afinal, traição não permite espaço para perdão. "  

Reflexão: eu acreditava nisso, não conseguia perdoar uma traição. Até uns meses atrás (conforme coloquei no face e aqui no blog). E posso garantir que a sensação de se perdoar alguém é pura e simplesmente divinal. Um peso enorme sai de nosso coração. Um alívio invade a alma.

Mas... voltando ao ponto da postagem:
A comunicação continua falhando. E trabalho isso em sala o tempo todo, com meus alunos. Levo poemas, contos, imagens, etc, que revelam o quanto podemos nos equivocar. Duas dessas imagens são as que seguem abaixo.
Agora vamos ver de outro ângulo:
Mas, não podemos nos esquecer que mesmo vendo a coisa desveladamente, ainda há a cortina de nossa bagagem pessoal (se fomos abandonados algum dia pelos pais, por exemplo).
Assim, veja onde você está, e perceba que o outro está em outro lugar (emocionalmente, psicologicamente e espiritualmente falando).
 Coloco estas questões porque considero que é importante sempre  refletirmos sobre as coisas. A pessoa que coloca algo como certeza absoluta está perdendo a chance de aprender. Lembrando também a fala de Morin:  
Cada mente é dotada também de potencial de mentira para si próprio (self-deception), que é fonte permanente de erros e ilusões [...] a tendência a projetar sobre o outro a causa do mal fazem com que cada um minta para si próprio, sem detectar esta mentira da qual, contudo, é autor. (MORIN, 2003, p. 21)

(enfim... pequenas reflexões para se pensar).
(Texto: Susan Blum. Imagens: internet. As duas imagens do homem, mulher, muro e flor: livro "O corpo fala", de Pierre Weil. Texto do casal: Adonai Sant´Anna em http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2013/04/submissao.html)

3 comentários:

  1. Gostei desse texto. Gosto de como vc sempre apresenta outras perspectivas e possibilidades... De como não se "conforta" em aceitar as coisas da maneira como são impostas... De como sempre me instiga a pensar de maneira diferente.
    Vc já deve ter visto, mas deixo aqui um vídeo que gosto bastante: http://www.youtube.com/watch?v=VIOSED1G4Dg.
    Beijocas

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    1. Lissa, obrigada por acompanhar o blog. O fato de VOCÊ não se conformar com as coisas é que faz gostar do que eu digo. Ou seja, não estou mudando nada em você, apenas confirmando algo que VOCÊ acredita! Espero que continue saindo de sua zona de conforto e observando com atenção de outros pontos de vista! Obrigada pela indicação do vídeo!

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  2. Adonai respondeu pelo face: "Gostei de suas reflexões sobre parte de meu texto. Por mais simples que um texto possa parecer, comumente é fácil encontrar inúmeras mensagens conflitantes nele." Obrigada, Adonai Sant'Anna! Sua amizade de anos sempre foi importante para mim também.

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