Leitura de orelha...ler com os olhos ou ler com as orelhas?
Pensemos nas iniciações aos livros (geralmente a oralidade... alguém contando para nós). Eu lembro de meu pai, sentado em sua escrivaninha, no escritório. Lendo, batendo na máquina de escrever. Levantando os olhos e balbuciando com os lábios, palavras para mim ininteligíveis.
Lembro quando ele me trouxe 3 livrinhos de historinhas. Um de uma princesa com uma arara, outro com coelhos e um lobo que se faz de doente (com pata machucada) e um terceiro com alguma historinha oriental que não lembro tão bem.
Lia e relia com tanto carinho cada historinha...
Também tinhas as HQs... meus preferidos eram Brasinha e Gasparzinho.
Depois, com um pouco mais de idade (tinha uns doze), ele trouxe livros mais "sérios": deu o Conde de Montecristo para minha irmã, os Três mosqueteiros para um irmão, um terceiro para outro irmão.. e me coube o Corsário Negro. Adorei ler o meu, fui para o de minha irmã e depois para os dos meus irmãos.
Delícia! Fugia para o quintal, subia na árvore (meu gato preto me acompanhava). Nos aninhávamos em alguns galhos e lá passava o dia.
Passaram-se mais do que 1001 noites, passaram-se mais que 2012 anos ...
Fui fazendo minhas próprias historinhas. Brincadeiras de criança. Poesias ... Contos.
Publiquei meu primeiro livro de contos: Novelos nada exemplares!
Iniciei 3 romances. Terminei um - há pouco tempo - com dois amigos (à procura de editora).
Participei de uma antologia que saiu hoje (teremos noites de autógrafos!). Aguardem!
Mas minhas orelhas continuam lendo mais do que eu... ouvindo as conversas alheias (vide Ouvidos abertos, olhos fechados)
Lendo ao pé da orelha, com ouvidos míopes, percebi que com estes óculos acabei abrindo mais as orelhas... Pois neste ato erótico que é ler, pode-se se iniciar por qualquer parte do corpo, e as orelhas são tão erógenas quanto os pés ou a barriga. Pego um livro carinhosamente da prateleira da livraria. Abro as orelhas e me insinuo nelas. Tiro a virgindade dos livros. (vide Tímpamen)
E me deito e rolo, refletindo na seguinte frase:
“Não é estranho como um livro fica mais grosso depois de ser lido várias vezes? Como se a cada vez, ficasse algo grudado nas páginas. Sensações, ruídos, cheiros… E então, quando folheia novamente o livro, depois de muitos anos, você encontra a si mesmo ali, um pouco mais novo, um pouco diferente, como se o livro tivesse guardado você, como uma flor prensada. Estranha e familiar ao mesmo tempo.” (Cornélia Funke)
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