novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

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convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

domingo, 3 de março de 2013

REAL (ficção) - tsunami

Sol. Areia morna. Música marítima com os contra-baixos das ondas e as flautas das gaivotas, volta e meia um violino Fernão Capelo. O vento dedilha com mãos de areia o corpo quente. Conversa gostosa com amigos, namorado, parentes. De repente, o mar recua de forma rápida, apresentando o leito marinho cheio de conchas, animais, plantas. Algumas pessoas se aproximam por achar belo, mas dentro de mim já reboa um sinal de perigo. Aviso a todos e começo a correr para o imenso paredão vertical de areia atrás de mim, meus pés afundam na areia grossa e apesar de todo esforço na imensa subida, com o coração pulsando na boca, com os nervos vibrando pelo medo, ainda vejo o topo da encosta muito longe. Ouço o estrondo atrás de mim e miro a massa imensa marítima. Finalmente consigo chegar ao topo, mas a parede de água está bem próxima, misturada a gritos de pessoas que são engolidas por ela. Vejo uma casa de vidro e entro correndo, subindo as escadas em uma tentativa de ficar no mais alto possível.
Aquelas mãozinhas pontiagudas estão sobre mim. Escuro. Silêncio.

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A calma piscina de mar, com sua água aquecida pelo sol abraça minhas pernas. Vejo crianças felizes, correndo, pulando, gritando de alegria. De repente o morno abraço se desfaz. Observo o líquido fugindo para dentro do mar. Percebo o perigo e grito para todos. Alguns correm comigo. Entramos em um prédio próximo, subo pelo elevador, mas após chegar ao último andar ainda procuro as escadas para chegar ao topo do edifício. De lá vemos a abundante argamassa que se forma e vêm ao nosso encontro. Fico preocupada se estou alta o suficiente. Mas não há mais para onde ir. Apenas me resta aguardar. 
Aquelas mãozinhas pontiagudas estão sobre mim. Escuro. Silêncio.

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Ensopada, completamente molhada, com os cabelos pingando e os membros dormentes ou com sensação de formigamento. Coração aos pulos. Estômago embrulhado. É assim que sempre acordo depois destes pesadelos. Em minha cama, no meu quarto, cujo único adorno é a pintura de Katsushika Hokusai.


(pintura de Hokusai - The Great Wave off Kanagawa)

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