novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

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convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

sábado, 20 de junho de 2015

REAL - A Cura pela Literatura

Quando criança um de meus refúgios favoritos era a biblioteca de meu pai. Só de olhar para aqueles diversos livros, que ocupavam uma parede do escritório dele, eu já  ficava um pouco mais feliz. Depois fui fazer faculdade de Psicologia e mais tarde de Letras.
Sempre acreditei que de alguma forma os livros poderiam "salvar" uma pessoa, mas não conseguia fazer a devida relação. Mesmo quando assisti à deliciosa palestra da literaturaterapia. Também escrevi sobre este tema na crônica Vai um comprimido de Felicidade Clandestina ?
Eu brincava, na época da faculdade de Letras, que um dia descobririam a cura do câncer por algum livro clássico. Mas claro que já achava (na época da faculdade) que a literatura tinha um potencial catártico, resolvendo (ou ajudando a) certos problemas psicológicos.
Bom, graças ao fato de ter derrubado meu celular em água e ter que ir levar para o técnico, entrei nas livrarias Curitiba e encontrei um livro que me ajudou a linkar certas ideias e conceitos que eu já meditava.
Então jogo aqui algumas ideias soltas que serão amarradas em breve em um artigo.
O livro se chama "Arte como terapia" e foi escrito por Alain Botton e John Armstrong. 
Nele os autores colocam a arte como um instrumento e que são sete as funções da arte:
1. rememoração
2. esperança
3. sofrimento
4. reequilíbrio
5. compreensão de si
6. crescimento
7. apreciação

Também mostram que a arte pode nos trazer
a. Leitura técnica
b. Leitura política
c. Leitura histórica
d. Leitura do caráter contestador
e. Leitura terapêutica

Não vou me ater a nenhum dos temas, mas preciso fazer pequenas pinceladas junto com as minhas ideias e análises de algumas obras.

Vejamos: quando os autores comentam sobre a Esperança, eles dizem que a categoria de arte que mais goza de popularidade é a alegre, agradável e graciosa. Eles acreditam que a maior parte do tempo sofremos de excesso de melancolia. Que temos grande consciência dos problemas e das injustiças do mundo, mas que nos sentimos fracos e pequenos diante deles.
Assim, estas pinturas nos trazem alegrias e esperança. Para eles, o otimismo é importante porque precisamos instilar ele nas tarefas.
Eles acreditam que se o mundo fosse um lugar melhor, talvez nos sentíssemos menos comovidos e tivéssemos menos necessidade de obras graciosas.
Agora abro um parênteses em relação à psicologia e à pintura. Na época do meu mestrado eu tive aulas maravilhosas com o professor Paulo Soethe. Nelas ele mostrava uma obra de Caspar David Friedrich.

Nela, vemos um homem de costas para o espectador. Admirando (junto com a gente) a bela paisagem que se descortina montanha abaixo. Este espaço imenso, com possibilidades é um contraponto às situações pelas quais passamos e que estão intimamente relacionadas ao espaço: depressão, angústia, ansiedade.
Já escrevi sobre isso em minha dissertação Abrindo as portas... mas retomo aqui a etimologia destas expressões.

Ansiedade - (latim) anxia ideia de aperto, aflição 
Angústia - (latim) angere apertar, estreitar, redução de espaço
Solidão - (latim) solus, solitas – atis isolado, desacompanhado
Depressão - é um termo que vem do latim de (baixar) e premere (pressionar), isto é, deprimere, que literalmente significa "pressão baixa".

Assim, o espaço está intimamente relacionado a estes fatores psicológicos. Neste sentido considero que as obras de arte, que trazem um espaço natural amplo, permitem que o espectador "respire", que tenha espaço para sentir a Natureza de forma não sufocante.
Assim, a arte é realmente uma terapia. E creio que poderia ser feito um estudo sério com dados empíricos. Mostrando obras de arte para um número de pessoas e verificando os dados de interesse delas em tal ou qual obra. Terapeutas poderiam analisar o interesse por obras mais amplas, ou organizadas, ou fechadas, ou "loucas", etc... promovendo um estudo mais acadêmico sobre este assunto.
Pretendo me aprofundar neste tema no futuro, pois sempre vi a literatura e a arte como facilitadores de "cura". 

Afinal, a arte (seja literatura, pintura ou fotografia), nos permite voar!

(Texto "jogado" e fotos: Susan Blum. Pintura: Caspar)

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