novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

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convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

domingo, 19 de julho de 2015

REAL- Silêncio........... sagrado

Peço um minuto de silêncio.


Ficou? Não? Então PARE de ler e FAÇA UM minuto de silêncio.




PRONTO? Sério? Caso contrário não entenderá o que digo adiante...

Caso tenha feito, creio que compreenderá melhor o que quero dizer:

O silêncio não é ausência de sons. É a presença dos sons da alma.

É uma libélula transparente que pousa em nossos lábios para fazer voar nossos sentimentos.


É uma pena que cala nossos pensamentos para aveludar nossas dores.


É uma barra de ferro que prende palavras amorosas ou odiosas.


É um dom, uma maldição. É respeito, é maldade.


É uma chave que guarda segredos. 

É um pote lambuzado de dor.
É um cisco no coração.
É uma pena acariciando a alma.
É a certeza vidrificada.
Transparência no escuro.
É veneno, é salvação.

Não tinha percebido isso, né?

Então faça mais um minuto de silêncio e perceba a sinfonia interior que escorrega pelos tímpanos e banha o cérebro.
O coração acompanha com seu tambor celta.
Os ouvidos com seus zumbidos-violinos.
A barriga com seus roncos.
Silêncio. Sagrado. Tão raro hoje em dia.
Suspire. Abra os olhos.
Conseguimos!
Demos um susto no barulho... 

Para fechar o texto, insiro o poema "O Fotógrafo" de Manoel de Barros como pequena homenagem a ele. E uma breve explicação de onde surgiu o minuto de silêncio (uma homenagem portuguesa a um ilustre brasileiro).


O  Fotógrafo
Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim num beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada mais na existência do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Vi um paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim cheguei a Nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski – seu criador.
Fotografei a Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.

Dizem que o minuto de silêncio surgiu em Portugal, devido ao enorme respeito que os lusitanos tinham pelo nosso Barão do Rio Branco. Fizeram então dez minutos de silêncio pelo falecimento dele. Depois isso virou hábito para toda pessoa ilustre que morresse. Mas o tempo era grande e passaram para cinco minutos. Mais tarde (tempo é dinheiro) ficou como um minuto de silêncio. Reconhecido internacionalmente.

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