Newton - Gödel,
Escher e Bach
Três mais um? Igual a quatro? Talvez não. A resposta pode ser:
milhares. Milhares de ideias, de cálculos, de imagens, de sons. Assim é com
NGEB.
GEB nasceu de Hofstadder. NGEB renasceu comigo, graças ao Adonai, que me apresentou o professor
Newton.
Com profunda humildade, ofereço e dedico este texto incompleto ao Da
Costa. Nosso Newton brasileiro!
“Me dê um tema para uma fuga” Já havia pedido Bach ao rei.
Ao lembrar disso, Tartaruga, Gato, Aquiles e Caranguejo discutem
sobre a beleza da música. Tartaruga e Aquiles relembram que já discutiram uma
vez sobre beleza.
Havia dito a Tartaruga à Aquiles quando observavam a bandeira de
Zenão e perceberam a beleza dela: “Estou pensando se esta beleza não se
relaciona com a impossibilidade. Eu não sei; nunca tive tempo de analisar a
beleza. É uma essência maiúscula; e eu nunca tenho tempo para essências
maiúsculas.”
Já Newton comenta, ao ouvir a conversa deles: “Beleza é tudo aquilo
que não é destruído pela repetição. Belo é resistente ao familiar”. Ao que
todos se calam para pensar sobre isso.
Mas logo a Tartaruga propõe a Aquiles: “Vamos fazer nova corrida?”
Para quem não sabe, eles já haviam discutido sobre corridas com Zenão. Pois
mesmo com enorme vantagem dada à tartaruga, pelo paradoxo de Zenão, Aquiles
nunca a alcançaria. Dessa vez Aquiles tenta ser mais esperto, mesmo dando a
chance dela ficar bem à frente.
No entanto a Tartaruga é inteligente e mesmo sendo ultrapassada por
Aquiles no alto do morro (que estava no meio do caminho entre saída e chegada)
ela ganha. Como? Ora, ela propôs a corrida com o pôr-do-sol atrás dela. Ao
passar pela tartaruga e descer o morro, Aquiles não tem mais sombra. Já a
tartaruga fica parada no alto do morro e alega que parte dela chegou antes à
linha de chegada: sua sombra. Newton considera que ela está correta, uma vez
que a sombra de uma pessoa é uma parte mereológica dela.
“Não vale!” replica um Aquiles arfante de tanto correr. Proponho
nova corrida, em um dia sem sol. A tartaruga de novo aceita. Mas desta vez, ao
ser vencida por Aquiles no alto do morro, ela grita com todas as suas forças.
Aquiles não entende isso e continua a correr, mas quando ultrapassa a linha de
chegada descobre que de novo Newton deu vitória à tartaruga. Pois ele a ouviu
antes de ver Aquiles. Assim, quem primeiro chegou foi a tartaruga (visto que a
voz faz parte da pessoa). Aquiles desiste.
Newton alerta que não devemos desistir, pois as coisas nem sempre
são o que parecem ser... ou que tem coisas a mais, além do que vemos. Ninguém
consegue acompanhar o raciocínio de Newton, e ele apenas aponta para o desenho:
O Gato reflete: "Serdubo!" Aquiles pergunta: "ser
adubo?"
"Não, eu quis dizer serdubo mesmo! Foi o que Escher sussurrou
ao morrer e deixar cair a fita de moebius com as formigas."
"Eu não disse?? ser adubo!! Formigas!"
Susan se intromete no texto e colabora com a confusão: “Recebi
Operações Sérias E Bonitas Um Dia” e complementa: "do professor
Newton".
Mas enfim, o que eu quero mesmo contar é que:
Em uma noite que era meio manhã de final de tarde, alguns
personagens estavam passeando na folha do lago que refletia a floresta,
observando o peixe logo abaixo. Eles ouviam o vento, que fugia pelas folhas das
sequóias, reproduzindo “Oferenda Musical - Ricercar a 6” .
Então o
caranguejo faz uma afirmação meio louca: “Vocês perceberam que quanto mais
subimos pelas sequoias, mais nos aproximamos do chão?” Newton faz uma cara de
espanto e diz: “Claro! Estamos numa fita de moebius! Subir/descer podem fazer
parte de um mesmo processo! Já expliquei isso na lógica paraconsistente (ou
seja, perceber contradições e manter a lógica clássica. Para isso precisamos de
uma lógica diferente da clássica, que aceite contradições. A lógica
paraconsistente foi idealizada para tratar de problemas desse tipo".
"Huumm subir e descer! Disso eu entendo!" pensa o caranguejo.
O Gato se intromete na fala de Newton e complementa: “isso seria uma
meia-mentira, ou uma meia-verdade? Do tipo de não sabermos qual a realidade?”
Newton suspira: “verdade... Primeiro eu não sei qual é a realidade e nunca vou
saber direito como ela é.”
O caranguejo deu de ombros, e ao ver isso o Gato disse: “você dá de
ombros porque tem costas largas!” “Mais largas que as minhas são as do Newton”,
retruca o caranguejo. Antes que todos perguntassem ao caranguejo o porquê
daquela afirmação, ele aponta para a parede com sua garra e com voz esganiçada
perturba o pensamento de todos:
“Vejam! Será mais um holismo e MU? O que será que significa isso?”
Todos param e observam a frase com interesse em decifrar.
“Uma sopa de irmãs Racon?” – arrisca o Gato.
“Não! Rã com irmãs” – afirma o caranguejo.
“Isso é paraconsistente” – sussurra Newton.
“Bah!” – gato e caranguejo esbravejam – “em tudo
você vê paraconsistência!!”
“Não, amigos. Olhem de novo. Recombinem as
letras...”
Com espanto, e com novos olhos, todos percebem: ISSO É PARACONSISTENTE.
Poincaré tenta contas e Carnap insiste na
ópera. Contas e notas para sentir a cara e coroa no encontro da ostra Costa.
Contente, persistente, ciente está na tetéia, no encontro consistente, no
inconsistente. No contra. Tentar encontro entre as contentes notas e as tristes
contas. As contentes contas, as notas tristes. Encontrar risos/riscos. Rotação
tosca. Repara no treco: a troca. A síncope. Crosta para cratera. Tenso. Crise.
O sino toca. A nota repete. O cetro corta. Conte, corte. O trato na rota. Pato
para cisnes. Paraconsistente.
O gato fica atônito e diz: “eu sinto que estou aqui, mas NÃO estou aqui”.
Newton olha para ele e reflete: “Nem mesmo o contorno do seu corpo é
definido. Alguém a anos-luz daqui só vê uma mancha no lugar onde você está.
Você é uma mancha de elétrons, e há elétrons escapando de você o tempo todo”
Ele faz um gesto rápido com a mão, bem próximo ao gato e diz: “viu? Acabei de
pegar um elétron seu” e ri.
O gato, para disfarçar seu embaraço com a situação (de ter perdido
um elétron seu para Newton) comenta: “Uma vez você comparou a lógica paraconsistente com as mulheres, não é?”
A tartaruga
confirma:“sim, eu lembro! Achei tão bonito isso!” Já o caranguejo sussurra
entre dentes (como se os tivesse) não tão baixo que todos não possam ouvi-lo:
“e algumas mulheres acham isso bonitinho. Tomam como elogio! Que tontas! Não
percebem a ironia da coisa!”
A tartaruga se
defende: “não é nada disso. Você não entendeu o que Newton quis dizer porque é
homem!” O caranguejo esbraveja: “Duvido que não entendi! Não é, Newton?” Newton
pensa alto: “a atividade racional é uma atividade de permanente dúvida, de
permanente crítica, de permanente aproximação” complementando seu pensamento
para si: “uma das coisas fundamentais que o educador deve incutir na cabeça da
pessoa é a capacidade para duvidar. Não aceitar nada sem antes passar por uma
pequena dúvida” e diz em voz alta: “Hã? O quê? Eu estava pensando em voz alta.”
O caranguejo
fica impressionado com isso e, faceiro, afirma: “Ora, para tirar as dúvidas,
basta usar um livro!”. Ao que Newton replica de imediato: “livro não é para
usar! Livro é para SUAR!”
Aquiles, o Caranguejo, a Tartaruga e o Gato olham para Newton como
se não tivessem entendido a frase. “Suar?” ecoa no pensamento de cada um deles.
Percebendo que eles não o compreenderam, Newton diz: “vou ensiná-los
a filosofar”. “Ah, é?” indagam em uníssono os quatro. “Sim! Provem que vocês
existem” os quatro respondem: “Bem, nós estamos aqui, conversando”. “Mas isso
pode ser um sonho, se vocês não provam a lógica disso, não tem” e assim foi...
Lógico, ou melhor, claro que nenhum conseguiu provar com lógica que eles
existiam.
Aliás, nem sei se este texto existe. Então vou ouvir um pouco de Bach...
(imagens de Escher e foto do professor Newton: retiradas da Internet. Desenho/montagem: agradecimento especial ao Adonai Sant'Anna pelo trabalho fabuloso em juntar as quatro grandes personalidades). Texto inspirado em dois livros: "Gödel, Escher e Bach" - de Hofstadter e "Newton da Costa" - organizado por Adonai Sant' Anna.
Esse foi um daqueles textos que não se entende nada mas se aprende muito rs, genial :D
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