novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

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convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

FICÇÃO - DORMENTE

Volta e meia eu faço um texto baseado em alguma foto de um amigo. Hoje não é diferente.
Meu amigo Faisal postou uma foto que me inspirou e solicitei a permissão de usar a imagem para fazer a escrita.
Obrigada, Faisal. Espero que goste do conto que foi inspirado em sua foto.
Feliz Aniversário, querido amigo.

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- Nana nenen, que a Cuca vem pegar.
Se não nanar direito...
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Com a trouxinha nos braços, o corpo no balanço cadenciado, a voz melancólica se repetia hora após hora.
Desde o parto ela só vivia no seu quarto, com o berço do nenen ao lado da cama.
A família até tentava fazer com que ela parasse um pouco.
Mas ao lado do berço de madeira, construído pelo próprio pai com o carinho de meses trabalhando a madeira bruta, ela permanecia.
Uma manhã acordou sobressaltada porque havia sonhado que seu nenen estava morto. Não viu o berço a seu lado e, apavorada, saiu correndo para o quarto do nenen. UFA. Lá estava ele.
Ela fez a trouxinha dentro do berço e a trouxe consigo cantarolando a música de sempre.  ♭♪♯♬♮♬

Sair? Não queria sem o nenen. O marido insistia, mas ela negava. Ou iam todos juntos ou ela ficava em casa (e abraçava com mais força a trouxinha em seu peito, como se fossem tirar à força). "Que vergonha mulher! Imagina a minha cara!" 
Nada feito. Então ela permanecia em casa. Dor no peito, hora de dar de mamar. Leite retirado, hora de nanar o nenen. Era sempre a mesma música, desde sua gravidez de risco. Ela ficava acariciando sua barriga crescente e enquanto via o marido construindo o berço com aquela linda madeira, pensava na família verdadeira que estava construindo.
Toda a família (dele e dela) lhe dizia para deixar um pouco o nenen, sair, se divertir. Ela, revoltada, retrucava que jamais abandonaria seu bebê.
Um dia o marido cansou. Gritou com ela, chamando-a de louca. Levou o berço até o quintal. Ela gritava insanamente ao ver que ele jogava álcool e acendia o fósforo.
O berço estalava, dormente.

(Texto: Susan Blum. Foto: Faisal.)



2 comentários:

  1. Oi Susan,vim fazer uma 'visita', conhecer seu blog. Gostei dessa primeira leitura, uma bela historia, por assim dizer. bjs

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    1. Olá Luciah. Que bom que veio visitar e que bom que gostou! Obrigada.

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