novelos soltos, emaranhados, organizados, escondidos, fiapos da vida......

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convido-os a desenrolar alguns fios reais e ficcionais

sábado, 16 de agosto de 2014

FICÇÃO - Insuspeida


 Sete e quinze da manhã, ônibus lotado (como sempre). Tanto frio que as janelas estão fechadas apesar do ônibus atochado. De repente um cheiro pútrido preenche os poucos vazios. Uma voz feminina se manifesta:
- Alguém pode abrir alguma janela? Já não chega o frio e a lotação, ainda isso! Um porco dentro do ônibus!
Um rapaz abre uma das janelas próximas. Ela agradece e continua olhando feio para os homens ao redor. Em um ponto, a velhinha que estava na frente da moça consegue se sentar e olha para a moça com seus olhinhos azuis cândidos.

- Foi você que reclamou do pum?

- Sim! Sou bocuda mesmo! Ah! Onde já se viu? Além deste aperto todo, do frio, vem um porco soltar pum?

- Pois é. Tem gente mal-educada mesmo! Coisa horrível. ADOREI o que você falou. Não é possível que ele não tenha sentido vergonha!

- Ah! Espero mesmo que tenha sentido vergonha. Poxa, não sou obrigada a respirar as fezes aéreas dele. Porque é isso mesmo que o pum é: fezes aéreas!

A velhinha torce o nariz.
Logo depois chega o tubo da jovem que se despede da senhorinha e sai.
Percebo o olhar da senhorinha que segue a moça. Um risinho sapeca eclode em sua boquinha enrugada  e um novo perfume fétido preenche o ar do ônibus.


 (Texto: Susan Blum. Imagem: retirada da internet.)

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