Um rosnado rouco rasgava raivosamente a névoa de silêncio
dentro do ônibus. Uma queixa se arrastava por quadras, naquela quarta-feira.
- Ele disse pra mim: “Cê não ensina seu filho, eu induco
ele.” Ignorante!
A amiga ao lado só assentia com a cabeça, sem sequer a
olhar.
- Ele antes era carinhoso. Até jogava bola com o piá. Cavalo!
Novo assentir sem olhar.
- Uma amiga até me disse tempos atrás: “Deus me livre um
cara desses bater num filho meu”. Mas eu não pude fazer nada, sabe?
- ...
- Ele me empurrou e deu um tapão nele.
- ...
- Agora eu e ele não queremos mais ele.
- ...
- Melhor assim. Ele me disse que quando vê ele na calçada é
pra fazê de conta que não vi.
- ...
- Ele que vá bater na mulher dele! Aquele merda!
- ...
Um silêncio de meia quadra dá um descanso aos nossos ouvidos
daquela raiva rezingada. A seguir um belo balido nos tira da Babel de pensamentos,
baixando como um badalo bonito.
- Daí domingo eu fui para a Igreja e vi aquela mágoa saindo
de mim. Só por Deus, sabe?
E a amiga:
- Só por Deus!
(Texto: Susan Blum. Imagens: internet).
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